segunda-feira, 30 de maio de 2011

JUREMA PRETA

Jurema Sagrada e Candomblé de caboclo (Nação Brasileira)
O culto a jurema:
O culto aos ancestrais brasileiros.
São compostos de índios, caboclos antepassados e que o mestre, entidade do catimbó, era o espírito de um catimbozeiro, feiticeiro, morto que voltava em uma mesa de jurema para continuar seu trabalho, são lece egum (espírito evoluídos ou em processo de evolução), mas sempre em um estágio mais avançados os mestres pertence assim á limba de rei Salomão e a limba da ciência é um mentor espiritual porque ele está em luz para prestar caridade que ele ainda não prestou na outra vida.
Jurema arvore sagrada que deu o nome ao mundo espiritual encantado onde as entidades residem, e composto este mundo encantado por aldeias, cidades e reinados onde nestes reinos e cidades residem os encantados, mestres caboclos, etc.
Cada aldeia tem três ‘mestres’, doze aldeias fazem um Reino com 36 mestres, no reino há cidades, serras, florestas, rios são 7 reinos ou 21 ou mais para alguns, com tudo existe ainda neste culto a jurema as mestras, pretos velhos, baianos etc. todos compõem as entidades sagradas da jurema que tem por finalidade exclusiva ensinar e transmitir a moral e ajudar a todos que estão encarnados, o caminho firme e ético. Isto é muito mais além um culto a jurema é um mundo imenso e eterno de grandes ciências pelo que nem tudo podemos revelar ela é como casa de abelha trabalha se ninguém vê.
Sou juremeiro e tenho orgulho do que sou.
Candomblé de caboclo (nação brasileira)

Caboclo sou Brasileiro

O negro veio da áfrica em navio negreiro foi escravizado e colocado nos canaviais da zona rural não agüentou a pressão e fugiu para o mato e unindo-se com os índios daí surgiu nova rasa a mistura com índio e negro surge o caboclo. O caboclo tem raízes Africanas e Brasileiras daí fazendo os ingoresis e o jarê Brasileiro daí da origem a nação kimbunco.
Como também os negros fugitivos se refugiaram em sua maior número para uma aldeia governada por uma cabocla chamada Jussara esta apaixonando-se pelo um negro rei de nação banto (angola) formado com ele uma família e dessa junção não só da união carnal mais espiritual nascendo em fim o Tumba Jussara...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

HISTORIA DO MESTRE PRETO ZÉ PHELINTRA (origem blog juremeiro neto)

Mestre Preto Zé Pelintra

Mestre Preto Zé Pelintra
Veja a Seqüência de Datas
Para falar no Mestre Preto Zé Pelintra, (José de Aguiar) temos que entrar na Historia do Brasil, vamos ao Estado onde Nasceu o nosso Bom Mestre…
MEUS IRMÃOS DE JUREMA QUANDO O MESTRE VEM EM TERRA ELE FALA ATRAVES DE SUAS CANTIGAS E AS SUAS LEMBRANÇA O QUE VIVEU E ONDE VIVEU, PARA ENTERDER ISSO E NESCESSARIO CONHECER A ONDE ELE VIVEU E O SEU TEMPO AQUI.
O MESTRE PRETO ZÉ PELINTRA NASCEU NA VILA DO CABO.

Pernambuco
A origem do nome Pernambuco: O nome Pernambuco vem do tupi Paranãpuka, que significa “buraco de mar”, expressão com a qual os índios conheciam a foz do rio Santa Cruz, que separa a ilha de Itamaracá do continente, ao norte do Recife. Daí caminhou para suas formas primitivas Perñabuquo e Fernambouc, já denominando o porto do Recife e fazendo-se presente nos mapas portugueses. As Tribos indígenas eram “Caetés, Tabajaras e Potiguares, Pertencentes à grande família Tupi”.
Desejando acelerar o ritmo da colonização das terras brasileiras, D. João III resolve introduzir um novo sistema político-administrativo, que recebeu o nome de Capitanias Hereditárias. Através deste sistema, pretendia o Rei de Portugal executar um rápido desenvolvimento da colônia com um mínimo de desgaste dos cofres reais, pois caberia a cada Donatário (nobre português que recebia a doação de um lote de terra ou Capitania) arcar com todas as despesas para explorar e colonizar a capitania mediante a concessão de alguns direitos aos Donatários tais como o de ministrar justiça, distribuir terras aos colonos, arrecadar os impostos e fundar povoações e vilas, esperava o rei que eles contribuíssem para o rápido povoamento do litoral brasileiro, a fim de impedir a invasão por piratas e corsários nos seus portos ou praias. Dando continuidade ao seu plano, D. João III inicia a primeira fase das doações, que vai de 1534 a 1536, compreendendo o primeiro quatorze Capitanias Hereditárias no Brasil. Falaremos da Capitania de Pernambuco ou Nova Lusitânia. A Capitania de Pernambuco ou Nova Lusitânia, com 60 léguas, localizava-se compreendida entre os rios Igaraçu e o São Francisco. E foi concedida a Duarte Coelho, navegador e soldado da Ásia. Pernambuco foi uma das duas Capitanias que obtiveram um relativo êxito. Com o êxito de duas capitanias, o Rei de Portugal continuou com o sistema e criou o Governo Geral. Em Pernambuco, se estabeleceram vários engenhos, onde a cana de açúcar era o principal produto na lavoura e a mão de obra era escrava. Criou-se a sociedade açucareira dos grandes latifundiários da cana de açúcar.
O DOMÍNIO HOLANDÊS Com o domínio Espanhol sobre Portugal, entre 1580 e 1640, e a proibição do comércio do açúcar com os Holandeses, estes aproveitaram para invadir o Nordeste do Brasil, inicialmente a Bahia e posteriormente Pernambuco em 1630. Durante os dez anos seguintes, aconteceram combates pela posse da terra. E desde 1637, Maurício de Nassau, com grande eficiência, governava Pernambuco a serviço da Companhia das Índias Ocidentais. Nassau marcou presença em Pernambuco como bom administrador, tolerante, político, urbanista, comerciante e mecenas, acabou gastando muito para os olhos da Companhia das Índias Ocidentais, que não viam o porquê de uma administração exemplar. Os atritos eram inevitáveis. Nassau renunciou ao cargo em 1644. A junta de comerciantes que o substituiu não deu continuidade ao seu trabalho, devido à ambição. Aliado a esse fato, os senhores de engenho se encontravam endividados perante a Companhia das Índias Ocidentais fizeram com que as hostilidades se reacendessem.
INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA (1645) Explodiu a Insurreição Pernambucana de 1645 a 1654 com batalhas travadas no Monte dos Guararapes e a vitória Pernambucana. A expulsão dos Holandeses de Pernambuco em 1654 e os investimentos feitos na produção de açúcar das Antilhas fizeram com que os pernambucanos perdessem o seu tradicional investidor, bem como o seguro mercado consumidor de seu produto.
Em Olinda havia muito luxo, pedantismo e ostentação, mas o dinheiro andava escasso. Já em Recife os comerciantes eram pobres em tradição, porém ricos em dinheiro. Mas apesar de sua ascensão econômica, Recife ainda continuava submisso à Câmara Municipal de Olinda. A elevação de Recife à condição de vila, fruto da assinatura por D. João V de uma carta Régia assegurando-lhe essa emancipação, fez os ânimos se acirrarem entre olindenses e recifenses.
GUERRA DOS MASCATES (1710) As divergências quanto à fixação dos limites da nova vila foram muitas e culminaram com uma tentativa de assassinato do governador, que fugiu. Em novembro de 1710 os habitantes de Olinda invadiram Recife, ocupando-a e destruindo o pelourinho (monumento que simbolizava a criação do município). Durante a ocupação, Bernardo Vieira de Melo, líder da ocupação, propôs que Pernambuco se tornasse uma república. Foi a primeira vez que se falou em república no Brasil, o qual acabou se tornando 179 anos mais tarde. O poder foi entregue ao bispo de Olinda, D. Manuel Álvares, que manteve a região ligada à metrópole. Os revoltosos foram anistiados. Os conflitos não terminaram, pois os mascates (daí ser chamada de guerra dos mascates) voltaram à luta. Somente com a chegada do novo governador, em 1711, é que a luta terminou. Daí em diante Recife consolidou cada vez mais sua posição de destaque em relação à Olinda.
REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA (1817) Em 1817, durante o Império, fatores econômicos, políticos e social foi responsável pela Revolução Pernambucana. A crise na produção do açúcar e algodão, luta dos senhores rurais e homens livres contra o domínio comercial dos portugueses e para diminuir os preços dos gêneros de primeira necessidade que eles vendiam. O desejo de substituir a Monarquia Absoluta pela República forma mais liberal de governo, já adotada nos Estados Unidos da América. As grandes desigualdades sociais e raciais existentes, que os revolucionários queriam eliminar. As idéias de liberdade e emancipação espalharam-se rapidamente pelas sociedades secretas, pelos quartéis, entre o clero, e cada vez mais pelo seio da população. O estopim da revolta foi à ordem de prisão dada pelo governador de Pernambuco aos principais suspeitos de liderar o movimento. Estava iniciada a revolução. Os revolucionários venceram as forças do governador e organizaram um governo provisório. Enviaram emissários para o exterior e capitanias do Nordeste, recebendo adesão da Paraíba, do Rio Grande do Norte e de Alagoas. Os revolucionários ainda venceram algumas lutas contra as forças militares, mas acabaram sendo vencidos, e seus principais líderes executados no Recife. A Revolução Pernambucana de 1817 conseguiu congregar religiosos, militares, intelectuais e populares em torno do ideal comum da emancipação política e do estabelecimento do governo republicano. No Nordeste, apesar da Independência, continuavam a existir os problemas econômicos e sociais contra os quais haviam lutado os revolucionários de 1817.
CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR (1824) Na revolução conhecida como Confederação do Equador de 1824, os antigos revolucionários e os proprietários de terras, apesar de divergirem em algumas idéias, continuaram lutando contra a ordem vigente, sendo mais uma vez derrotados.
REVOLUÇÃO PRAIEIRA (1848) governo conservador que assumiu o poder em 1848, nomeou um presidente também conservador para Pernambuco, desgostando os liberais desta província, que se revoltaram. O movimento denominado Revolução Praeira, devido ao jornal liberal funcionar na Rua da Praia, teve início em Olinda, marchando para o Recife. Os rebeldes não conseguiram tomar a cidade. Com menos de um ano, a rebelião foi derrotada. A anistia concedida pelo governo central em novembro de 1851 pôs fim ao movimento.
A título de curiosidade: Não existe no Recife, nem talvez no Grande Recife, nenhum logradouro público (ponte, viaduto, praça, avenida, rua, travessa, beco etc.) com o nome de D. Pedro I. Embora não devamos esquecer seu nome, devemos nos lembrar que foi ele, principalmente, que nos tirou a comarca da Paraíba, Alagoas e a Comarca de São Francisco (hoje Juazeiro) por conta da rebeldia dos pernambucanos. Foi ele, D. Pedro I, usando como algoz o Conde dos Arcos, que mandou prender, degredar, torturar e executar muitos pernambucanos revolucionários.
fonte: (http://www.memorialpernambuco.com.br/memorial/paginas/historia/131resumodahistoriapernambucana.html)
Cidade onde o Mestre Preto José Pelintra Nasceu.
VILA DO CABO DE SANTO AGOSTINHO-PE
(http://www.cabo.pe.gov.br/historia.asp)
Sua história se inicia antes da chegada dos portugueses no Brasil. O cabo era povoado pelos índios caetés, mas na segunda metade do século XVI começavam a surgir outras povoações que foram chamadas de Arraial do Cabo.
As primeiras povoações chamadas de Arraial do Cabo surgiram na segunda metade do século XVI. Formado pelas Igrejas Matriz de Santo Antônio, de Santo Amaro, Nossa Senhora do Livramento e antiga Capela do Rosário dos Pretos e casario escasso representado por antigos prédios nas ruas da Matriz (Rua Vigário João Batista) e Dr. Antonio de Souza Leão.
Em 1560 João Paes Barreto instituiu o primeiro Morgado no Brasil e lhe deu o nome de Nossa Senhora da Madre de Deus do Cabo de Santo Agostinho, vinculando o Engenho Madre de Deus, depois chamado de Engenho Velho. A escritura foi redigida em 28 de outubro de 1580.
Segundo afirma Sebastião de Vasconcelos Galvão, autor do Dicionário Iconográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco, o povoamento sede do Município vem de 1618; antes dessa data compunham-se de algumas casas esparsas, distantes uma das outras.
Transcorridos mais de duzentos anos de ter sido a Povoação de Santo Agostinho elevada à predicação de Paróquia é que foi criada a Vila do Cabo de Santo Agostinho, por força do alvará de 27 de julho de 1811 e Provisão Régia de 15 de fevereiro de 1812, enviada ao então governador da Província, o General Caetano Pinto de Miranda Montenegro.
Sua instalação, no entanto, ocorreu em 18 de fevereiro de 1812, pelo ouvidor e corregedor-geral da Comarca de Recife, o Doutor Clemente Ferreira de França. Foi elevada a categoria de cidade a então Vila do Cabo de Santo Agostinho em 09 de julho de 1877, pela lei provincial nº. 1.269, para a denominação de Cidade de Santo Agostinho do Cabo.
O Cabo teve sua economia centrada no desenvolvimento da monocultura da cana-de-açúcar, a partir de 1570, com a doação de sesmarias ao longo do Rio Pirapama. Tendo João Paes ocupado às terras a ele concedida em 1571, ao sul do Rio Araçuagipe (Pirapama), funda o primeiro engenho bangüê que denominou Madre de Deus (hoje, Engenho Velho), o mais antigo centro açucareiro da Região. Mais tarde, com a criação de novos engenhos, o Cabo passa a representar o poderio econômico de Província de Pernambuco, época em que a cana-de-açúcar representava a força de crescimento do país.
Vinda da Família Real para o Brasil
Período Junino (1808-1821)
Medidas tomadas por D. João
D. João adotou várias medidas econômica que favoreceram o desenvolvimento brasileiro. Entre as principais, podemos citar: estímulo ao estabelecimento de indústrias no Brasil, construção de estradas, cancelamento da lei que não permitia a criação de fábricas no Brasil, reformas em portos, criação do Banco do Brasil e instalação da Junta de Comércio.
Do ponto de vista cultural, o Brasil também saiu ganhando com algumas medidas tomadas por D. João. O rei trouxe a Missão Francesa para o Brasil, estimulando o desenvolvimento das artes em nosso país. Criou o Museu Nacional, a Biblioteca Real, a Escola Real de Artes e o Observatório Astronômico. Vários cursos foram criados (agricultura, cirurgia, química, desenho técnico, etc.) nos estados da Bahia e Rio de Janeiro.
Retorno de D. João para Portugal
Os franceses ficaram em Portugal durante poucos meses, pois o exército inglês conseguiu derrotar as tropas de Napoleão. O povo português passou a exigir o retorno do rei que se encontrava no Brasil. Em 1820, ocorreu a Revolução do Porto, sendo que os revolucionários vitoriosos passaram a exigir o retorno de D. João VI para Portugal e a aprovação de uma Constituição. Pressionado pelos portugueses, D. João VI resolveu voltar para Portugal, em abril de 1821. Deixou em seu lugar, no Brasil, o filho D. Pedro como príncipe regente.
Pouco tempo depois, D. Pedro tornou-se imperador, após o processo de Independência do Brasil (7 de setembro de 1822).
ENTRANDO NA HISTORIA DA MESTRA MARIA LUZIARA
Estima-se que, no início da colonização portuguesa, cerca de quatro milhões de ameríndios viviam no atual território brasileiro.
Encontravam-se divididos em diversos grupos étnico-linguísticos: tupi-guaranis (região do litoral), macro-jê ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques (Amazônia) e caraíbas (Amazônia).
Para podermos saber a ciência dos Mestres na Jurema Sagrada, Catimbó, temos a obrigação de saber a Historia do Brasil. A Princesa encantada da Jurema Sagrada, que foi encantada na da flor da Jurema Preta.
(Jurema-preta (Mimosa hostilis benth) é uma árvore pertencente à família Fabaceae, da ordem das Fabales típica da caatinga, ocorrendo praticamente em quase todo nordeste brasileiro). Bem adaptada para um clima seco possui folhas pequenas alternas, compostas e bipinadas com vários pares de pinas opostas. Possui espinhos e apresenta bastante resistência às secas com grande capacidade de rebrota durante todo o ano. Usada pelos índios da etnia xucurus-cariris em conjunto com a Jurema Branca (Mimosa verrucosa).
A Princesa encantada da Jurema Sagrada Maria Luziara
E a Mestra Maria Luziara da Conceição era filha do Mestre João Grande, que veio junto com a família real, nasceu na Bahia, em 1808.
Ai a confusão em seus pontos que fala que ela era princesa do Mestre João que era o seu Pai Mestre João Grande, veio para o Brasil junto com a família real muitos gente pra o trabalho e promessa de terras novas pra plantação famílias inteira se mudou para o Brasil como já lemos anteriormente.
A Imigração no Brasil deixou fortes marcas na demografia, cultura e economia do País. Em linhas Gerais, considera-se que as pessoas que entraram no Brasil em 1822, ano da independência, foram colonizadores.
A Partir de então, as que entraram na nação independente foram imigrantes.
Mais porem o Rei Dom João VI se se apaixonou por ela (Maria Luziara) que ainda e uma menina moça, e lhe deu muitas jóias e quando ele voltou para Portugal ela foi obrigada a subir para o Recife e se Prostituir por volta de 1821.
Agora veja bem quando foi mesmo que a família real foi se embora?
(A transferência da corte portuguesa para o Brasil foi o episódio da história de Portugal e da história do Brasil em que a Família Real Portuguesa e a sua Corte (inicialmente 15 mil pessoas) se radicaram no Brasil, entre 1808 e 1820.).
Tem Parte da cantiga de Maria Luziara que fala assim:
… Ganhou um Colar de ouro foi um casado quem lhe deu na passagem do Riacho Luziara perdeu. Perdeu, perdeu a sorte que o macho lhe Deu…
A Mestra tinha um grande mistério com ela que todos os homens que a olhava se apaixonavam pela sua educação, beleza e gentileza que teve educação Européia.
Chegando a Recife no Cais do Apolo em suas redondeza era o local de prostituição, e na época mulher separada, ou que não fosse casada era obrigadas a se prostituir daí Maria Luziara mocinha, conhece a Rua da Guia e se prostitui causando grandes transtornos e brigas nos bordel, pois era muito bela e todos os homens a cobiçava entre ele alguns hoje mestres, Manoel Quebra Pedra, Zé do Bairro da Encruzilhada, ou Zé da Encruzilhada que e a mesma coisas e foi à mulher das Paixões do Nosso Amado Mestre Rei do Catimbó Preto Zé Pelintra. Que Nasceu na Vila do Cabo de São Agostinho – PE.
Cantiga do Mestre que fala essa passagens…
“Na Rua da Amargura, a onde seu Zé Pelintra Morava (bis)
Ele Chorava por uma mulher,
Chorava por uma Mulher que não lhe amava.”
A INVENÇÃO DA LOCOMOTIVA

Não tardou muito para que estas questões relacionadas à invenção da locomotiva e à construção de estradas de ferro fossem conhecidas no Brasil. Pode-se dizer que as primeiras iniciativas nacionais, relativas à construção de ferrovias remontam ao ano de 1828, quando o Governo Imperial autorizou por Carta de Lei a construção e exploração de estradas em geral. O propósito era a interligação das diversas regiões do País.
A segunda ferrovia inaugurada no Brasil foi a Recife – São Francisco, no dia 8 de fevereiro de 1858, quando correu o primeiro tem até a Vila do Cabo, em Pernambuco. Esta ferrovia, apesar de não ter atingido a sua finalidade – o rio São Francisco – ajudou a criar e desenvolver as cidades por onde passava e constituiu o primeiro tronco da futura “Great Western”.
Lírios do Mestre Preto Zé Pelintra
Falando sobre o Trem…
- Telefone Corre No Fio E O Vapor Corre Na Linha,
Teu Juízo E Muito Fino Meu Pensamento Adivinha.
-Ah Seu Dotou, Seu Dotou, Bravo Senhor, Zé Pelintra Chegou,
Bravo Senhor. (Bis).
MESTRE PRETO ZÉ PELINTRA.

José Pelintra, ou Preto Zé Pelintra, carinhosamente Padrinho Zé Pelintra, que é o Padrinho de todos os Catimbozeiros, pois foi ele quem introduziu o tambor na jurema e levou para a casa fechada para proteger da policia antigamente os Juremeiros ia para as matas também era conhecido como José de Aguiar, vulgo Preto Zé Pelintra.
Se a Ferrovia foi inaugurada na Vila do Cabo em 8 de fevereiro de 1858 e o mestre tem em suas cantigas passagem com o trem logo ele viveu por essa época. E certo que ele foi passado com 114 anos em alhandra. PB.
José Phelintra de Aguiar e como a mãe dele era Maria José de Santana muitos o chamavam também de José de Santana, o Gomes que muitas vezes se vê foi acrescentado pelos Guimarães quando seu José foi Juremado no Açaís.
Mais Existe um mestre Esquerdeiro chamado José de Santana, que e parente do mestre também que vem posterior a sua morte.
Lírio do Mestre:
- Miudinho, Miudinho, Peneirado Feito Xerém,
Matei Um Cego E Um Aleijado, E Joguei Na Linha Do Trem.
Ah Seu Dotou, Seu Dotou, Bravo Senhor, Zé Pelintra Chegou
Bravo Senhor. (Bis).
“Mestre do Chapéu de Couro”, não confundir com o Boiadeiro chapéu de couro, O Mestre José de Aguiar quando foi para Paraíba passou a usar chapéu de couro, mais quando ia passear na Rua da Guia, no cais do Porto de Santa Rita,do Apolo e nas Ruas do Beco malicia onde a malandragem e os boêmios ficava se vestia de terno branco, que a palavra Pelintra nasceu dele mesmo pelo seu sobre nome de Filintra que veio de seu Pai que José Filintra de Aguiar, daí Pelintra de vestido ridiculamente, ou pobre se passando por rico, malandragem de mestiço era um termo pejorativo.
Conta-se à história que o sobrenome Aguiar é paterno e até nas incorporações o chamam de José Pilintra de Aguiar.
Sendo o primeiro e o único filho José Filintra de Aguiar, com uma Bugra mestiça com negro, que após o seu nascimento na vila do cabo em Pernambuco, foi para o Cabaré Hollywood que lá teve mais irmãos de outros pais que são Antônio, Francisco e Maria e por causa do irmão que ganhou também o apelido Pelintra. Honra o sobrenome das avós.
A família Aguiar em Pernambuco
João José Ferreira de Aguiar, 1° e único barão de Catuama, mais conhecido como Conselheiro Aguiar (Goiana, 10 de janeiro de 1810 — Recife, 18 de novembro de 1888) foi um magistrado, político, jornalista e professor brasileiro.
Filho de Antônio Ferreira Aguiar e Úrsula das Virgens de Aguiar, foi um dos primeiros matriculados na Faculdade de Direito de Olinda, formando-se em 1832. No ano seguinte foi nomeado juiz de Fortaleza, sendo depois transferido para o Piauí. Em janeiro de 1835 é nomeado para a segunda vara criminal do Recife.
Foi presidente das províncias do Rio Grande do Norte, de 1 de maio de 1836 a 26 de agosto de 1837, e do Ceará, de 24 de novembro de 1877 a 22 de fevereiro de 1878. Foi deputado provincial em Pernambuco várias vezes, e deputado geral pelo mesmo estado por 5 mandatos (5º,8ª,10ª e 16ª legislaturas).
Foi professor de Direito criminal de 1854 até aposentar-se. Como jornalista colaborou com diversos jornais do Recife: Diário de Pernambuco, Quotidiana Fidedigna, O Lidador, A União, O Clamor Público: Ordem e Liberdade, entre outros.
É recipiente da comenda da Imperial Ordem da Rosa e Imperial Ordem de Cristo. Seu nome batiza uma das principais avenidas da cidade de Recife, a avenida Conselheiro Aguiar.
AVENIDA CONSELHEIRO AGUIAR (Recife PE)
João José Ferreira de Aguiar; o Barão de Catuama foi escolhido pela municipalidade para homenagear essa importante artéria urbana. Diferentemente da Av. Boa Viagem e da Rua dos Navegantes, essa artéria, que inicia ainda no Bairro do Pina e vai até a Praça da Igrejinha.
O Conselheiro Aguiar nasceu em Goiana em 1810 e faleceu no Recife em 1888. Era abolicionista, magistrado e Professor da Faculdade de Direito do Recife.
Antônio Felipe Camarão
É muito grande e dizem que Antônio Felipe Camarão, “o índio Poty”, simples guerreiro da tribo dos Arataque, conseguiu negociar com as tribos dos Tabajaras e Pirajibes, por ser distinguido por suas bravuras e que lhe valeu diversas recompensas do Rei Dom João VI, de Portugal, a favor da Cidade da Jurema e dos Mestres.
Filho de Jatobá, irmão de Jacaúna, chefe da tribo que o acobertou na linha do Catimbó, muitos mestres hoje conhecidos sob a orientação do Mestre Zé Pilintra, encontrou um canal aberto no astral superior e depois de passado certo tempo no limbo para resgatar o mal que viveu na terra, se tornaria doador para prestar caridade. Aí está, com certeza, a linha da malandragem ou da pilantragem, já que Pilintra é uma corruptela de pilantra.
Mestre José Ferreira, ou Mestre Tangerino Zé Ferreiro,era um agregado da família Oliveira de Inácio de Oliveira irmão de Maria de Oliveira a Maria Índia ou Maria do Acaio a primeira Maria do Acaio a qual ganhou de Dom Pedro II as Terras as terras do Acaio, é foi que todos os chamavam de Zé Pilintra, sempre diz – não sou Zé Pilintra, nunca fui malandro, sou Ferreiro e Sou Trabalhador, apesar de alegre e gostar de dançar e brincar.
Família Oliveira de mestre Inácio de Oliveira que era índios Tabajaras na Fazenda Stival.
No Cangaço tem um que se chama Mestre José Ferreira ou Zé Ferreira que entrou para o cangaço, ainda menino, pensando em vingar o pai que foi morto por briga de terras, mais o cangaceiro Zé Ferreira, não e o mesmo Tangerino Zé Ferreira ou Tangerino Zé Ferreiro (tinha 2 profissão de tanger o gado pelo Sertão, e levava em um Jumento “Jegue” , os instrumento de trabalho para fazer ferraduras, facão e outros ofícios de um ferreiro nômade, clamo e tranqüilo, pois o Boi já era teimoso, e sempre volta pois era casado com a cigana Elisa, na Jurema e uma Princesa Encantada do Fundo do Mar, Zé Ferreiro tinha como companheiro o João Tangerino, que morreu e se encantou anos passado o mestre Inácio consagrou o Zé Ferreiro para o Mestre João Tangerino.
Como e de conhecimento de todos, os Pajés em suas aldeias, quando um grande guerreiro morria, eles pega um tronco de uma arvore sagrada e invocava aquele guerreiro e o consagrava em uns de seus amigos ou índios.
Voltando ao Mestre Preto Zé Pelintra, que não e o mesmo Mestre Tangerino Zé Ferreiro, que era muito parecidos, igualmente com o Mestre Zé Baiano, Mestre Zé da Encruzilhada era uma época que tinha muitos mestiços e Burgos igualmente ao Mestre José de Aguiar, fisicamente.
Mestre Preto José Pelintra,
“Lírio”
- E Preto José Pelintra, Nego do Fel Derramado. (Bis).
Na Direita Ele E Maneiro. Na Esquerda Ele É Pesado. (Bis).
Quem Mexer Com Que E Dele, Ou Está Doido Ou Esta Danado. (Bis).
Ah Seu Dotou, Seu Dotou, Bravo Senhor, Zé Pelintra Chegou,
Bravo Senhor. (Bis).
Esse mestre em vida, ou seja, o José de Aguiar não era bem visto pelos irmãos Juremeiros, que ele era barulhento e gostava de jogo, farra musica, bumba meu boi e todo tipo de festejo popular lá esta ele na frente, e os catimbó era feito abaixado no meio do mato mais ele queria que os tambores fossem tocados como ele foi consagrado na aldeia para o seu caboclo, por isso que usa uma pena de pássaro em seu chapéu.
Lírio
Mestre Zé Pelintra (Louvando O Seu Caboclo)
Para Quem Ele Foi Consagrado em vida Para Um Caboclo Pinavaruçu foi um Pajé hoje é um Príncipe na Jurema.

Eu Trago A Pena do Meu Caboclo No Chapéu,
Nego Zé Pelintra Vai Dominar Seu Coração.
O Meu Mestre Me Diga Um Segredo Seu?
Porque Lá Na Jurema Quem Duvidou Morreu…
O Mestre Preto Zé Pelintra e o padrinho do catimbó, pois foi ele quem levou o tambor para a jurema que era tocado somente os maracás abaixados na mata se a policia soubesse matava ali mesmo e não deixava ser enterrado em cemitério publico os mestres enterrava no pé da jurema preta e daí nasceu à mata encantada da jurema na Paraíba.
Seu Zé Pelintra se dizia e ainda diz que é doutor, por ser um grande conhecedor de ervas, ensina em suas mesinhas, como usar e para que sirva, todo bem que a erva do Juremar faz Zé Pelintra realmente é doutor, mas conta se que ele se apaixonou pela uma ruiva muito linda chamada Maria Luziara, e disse que alguns homens esta na Rua da Guia e brigou por causa da bela mulher que era prostituta, e na cadeia o ladino José de Aguiar, vestiu o seu terno branco e se apresentou como advogado de Maria Luziara, e após a sua soltura ela sumiu da cidade e se mudou para uma fazenda na serra da Borborema com que tinha ganhado na vida da Rua da Guia e foi criar gado. A policia ao descobrir que o tal advogado era um malandro que o enganara sai pelas ruas de Recife a sua procura daí que o jovem se mudou para a fazenda Stival na Paraíba e Lá foi a sua consagração na jurema sagrada, por contrariedade de seus irmãos que era muito farrista.
Não se sabe exatamente a data do nascimento de Zé Pelintra. A história conta que ele viveu nos séculos XVIII e XIX. Na época da chegada na família real ela era um rapaz.
Seu corpo foi sepultado no antigo e extinto cemitério de Afogados do Ingazeiro, a duzentos quilômetros de Recife-Pe.
Vivendo apenas 114 anos, Zé Pelintra se vestia com aprumo e não dispensava o chapéu de Panamá nas cidades mais no Sertão no meio dos cangaceiros e onde tinha uma festa Lá estava ele com o seu Chapéu de couro e seu gibão e um lenço encarnado se Intitulava o rei dos valentões. E nas andanças pelo sertão usava um chapéu de couro, e nem a cachaça de cabeça de cana – marafo: onde houvesse um arrasta-pé, lá estava ele sem ser convidado, sempre valsando ou frevando.
Lírios
Pendurado Na Boca Seu Charutão,
Chapéu De Couro Bengala Na Mão. (Bis)
Quem Nunca Viu, Venha Ver Esse Bom Mestre,
Seu Zé Pelintra Mandingueiro Do Sertão. (Bis).

Tem muitos estrangeiros na linha da Jurema, vindo da Europa antiga e o Catimbó teve grande influência. (Pernambuco foi invadido pelo Holandeses) Os encantados Juremeiros são filhos de italianos, holandeses, turcos, franceses, espanhóis e portugueses, etc. Exemplo: Dom Sebastião, O Rei da Turquia pai de Mariana, uma cabocla mestra do Amazonas, maravilhosa e curandeiro, Mestre João, português, e pai de Maria Luziara, uma mestra casamenteira, que só trabalha para o bem e assim vai.
O catimbó de Zé Pelintra é como as solenidades dos terreiros: dramático, por ter muita gente precisando de ajuda; interessante, por ser algo alegre e diferente; comovente, por sentirmos na pele a força dos guias; é real, por que prova a gigantesca força dos senhores mestres é contagiante, pela satisfação dos presentes.
A Jurema é misteriosa, desde a sua folha para fazer um descarrego até a sua casca, para fazer grandes remédios, para purificar o sangue e curar muitas doenças do mundo.
Senhor Zé Pelintra é, sem dúvida alguma, um grande mestre e está para o consulente como um sopro de vida. Aproveitemos a oportunidade de termos uma grande entidade para recorrermos.
ZÉ PILINTRA NO MUNDO DO CATIMBÓ
Como e de conhecimento de todos, o Mestre José de Aguiar, o tal Preto Zé Pelintra conhecido por todos na época, um brincalhão, boêmio, farrista e não era bem visto pelas pessoas de sua religião, os seus irmãos de Juremeiros que fazia os seus encontros no meio do mato escondido da policia, para não serem mortos já o José de Aguiar queria era bater o tambor beber e brincar com os caboclos nos tores. Quando ele passou com 114 anos um grande estrondo se deu em Tambabá era o mestre sendo recolhido na cidade da jurema. Logo após uns anos o mestre começou a pegar cabeça.
JOSÉ GOMES DA SILVA
Em vida o José Gomes da Silva acostou se com um Mestre que ate então era comum só se acostava com caboclos, boiadeiros e Tangerinos, e o Encantado que manifestou se apresentou e pediu a ser consagrado dando o nome de Preto José Pelintra, daí o Juremeiro uma vez consagrado ao mestre dentro da Jurema Sagrada, adotou:
• Os Tambores do Tores dos Caboclos nas Giras sem quantidades depende ao número de guardião que bate no dia da gira pode ser quantos quiserem.
• Triângulo, Afoxés, Pandeiros, os instrumentos utilizados nos forros e folclore nordestinhos.
Mestre José Francisco
O Mestre José Francisco é originário do interior do Rio Grande do Norte e foi para Patos PB e era discípulo consagrado para José Pelintra.
Amigo em vida do sobrinho de José de Aguiar Santos dos Anjos, que teve o nome em homenagem ao avo e ao Tio, consagrado na Jurema como Mestre dos Anjos, nasceu em Pernambuco e se mudou para Bahia conhecido como Zé Pelintra da Bahia. Todos os discípulos consagrados ao mestre, ou seja, ate hoje os discípulos do mestre Zé Pelintra se veste e passa a ter uma vida igual a que o mestre teve Boêmio e ou festeiro.
Lírios do Mestre José Francisco
“Eu rodei meu bom espaço numa hora do meio Dia”,
Eu Roguei todas as Correntes com o Rosário de Maria,
Sendo eu José Francisco por apelido Pelintra,
Ainda meio aperreado de uma vez eu mato 30,
Minha mãe pegou Zé sacudiu dentro do rio com a pedra no pescoço para deixa de ser vadio,
Minha mãe pegou Pelintra sacudiu dentro do poço com a pedra no pescoço pra deixa de ser teimoso. ”
Neste Lírio vemos que o mestre fala que ele se chama José Francisco mais tinha ganhado o apelido José Pelintra. Que o mestre Preto Zé Pelintra, ele pousava na cabeça de seus discípulos, os seus médium, e passava muito tempo acostados, e os levava para os lugares em que ele gostava de freqüentar, e fazia danuras e muito catimbó e curandeiro e a sua fama foi se alastrando e pegando outras cabeças pelo Brasil,
Seu sobrinho José Aguiar Santos dos Anjos foi consagrado para também para o mestre Preto Zé Pelintra, este então que foi um grande problema que ele alem se chamar José de Aguiar como o tio teve o apelido de Pelintra mais quando ele morreu e se encantou abaixa nos terreiros como o Mestre Zé dos Anjos, o Zé Pelintra da Bahia da Rua do Pelourinho, onde tem um terno por Lá.
José Gomes, José Franco, José de Santana, José da Proa, José, Francisco, Zé da Encruzilhada, entre muitos outros. Esses Juremeiros em vida foram consagrados para o mestre Preto Zé Pelintra, e o Mestre passaram ter muito nome e influência em suas vidas ate mesmo os discípulos passou a ter atitudes semelhastes a do mestre e ganhou o apelido de Zé Pelintra e muitos mesmo tinham o nome de José, e quando esses mestres foram passados para a Jurema eles vêm com os seus nomes mais muitos falam que e o mestre José Pelintra sendo que esse mestre José de Aguiar não abaixa mais. Vêm os Juremeiro que foi consagrado para ele.
Já no Rio de Janeiro era médium de Umbanda que recebia o mestre Preto José Pelintra, o José de Aguiar, após a morte deles vem nos terreiros de umbanda como malandros.
Porque que os umbandistas que recebia o mesmo mestre Preto Zé Pelintra não baixa como Mestre de Jurema e sim como Exu malandro, tendo somente um que e o Zé Pelintra da Lapa esse foi batizado na barriga de sua mãe quando saiu Grávida dele de Pernambuco e quando foi passado se se encantou e a figura do Malandro Carioca com a camisa listra de preto e vermelho que são as cores de seu padrinho Preto Zé Pelintra, e por isso que o Rio de Janeiro tem o encantamento da Malandragem e a fama de serem festeiros e alegres, por causa deste encantados, mais porem ele em vida não foi consagrado no pé da jurema preta, não foi consagrado a mestre nenhum e no ato de sua morte não foi encantado para ser um mestre de Jurema mais sim um encantado de sua terra o qual vem na linda de Exu (Lembramos todos que a Jurema Sagrada, Catimbó não temos Exu e Pomba Gira), O Exu Malandro ou Zé Pelintra da Lapa que são os mesmo, e quem comanda a linha dos malandros que todos são exu e não são mestres. (Não passou pelo atos da jurema mesmo porque no Rio de Janeiro não existia na época pé de Jurema as que tem hoje foi Juremeiros a levou e plantou nas suas casas e barracão.
Muitas casas no Rio de Janeiro trabalham com seu Zé Pelintra sendo esse o exu malandro e não mestre daí tem o José Pelintra do morro, da lapa etc. Esse mesmo Mestre vem trazendo a linha da malandragem.
O Mestre José de Aguiar gostava do frevo e do maracatu. Da Boemia da rua da Guia em Recife, Muitas vezes confundido com malandro, por ter vivido muitos anos na beira do cais, no Pátio do Terço, no Recife, onde existe a maior escola de encantaria do Brasil, fazendo com que chegasse ao Rio de Janeiro com um sentido de incorporação muitas vezes diferente. É bonito, contagiante, é alegre e sua ginga é realmente respeitada.
Finalizando os encantados quanto mais faz pela a humanidade mais luz vai ganhando, este homem José de Aguiar viveu no século XVIII a ao inicio do século XIX na época do final do império no Brasil, é um mestre que já foi consagrada a muitas cabeças muitas correntes, ele já passou na mesa da jurema varias vezes e hoje o mestre e consagrado como dono de corrente somente para médiuns que são guardião da jurema justamente que eles não tem incorporação, mais como já foi dito ele vem acompanhando os médiuns que consagrou para ele e já passou e foi encantados, tais como o José Gomes da Silva que e o médium mais antigo, e o qual muitos fala que e o verdadeiro Preto Zé Pelintra, exatamente isso que faz o mestre ser um encantado e o nosso padrinho da jurema o qual criou se a gira e a dança dos mestres.

PIPOCA OU PIRUA???

PIPOCA OU PIRUÁ???

A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.
Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só elas não percebem.
Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor.
Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.
Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo.
Sem fogo, o sofrimento diminui.
E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente que ela mesma nunca havia sonhado.
Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura.
O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca e macia.
Não vão dar alegria para ninguém.
Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
E você, o que é?
Uma pipoca estourada ou um piruá?

sábado, 6 de fevereiro de 2010

jurema sagrada

A Jurema mostra o mundo inteiro a quem bebe: Vê-se o céu aberto, cujo fundo é inteiramente vermelho; vê-se a morada luminosa de Deus; vê-se o campo de flores onde habitam as almas dos índios mortos, separada das almas dos outros. Ao fundo vê-se uma serra azul; vêem-se as aves do campo de flores: beija-flores, sofrês e sabiás. À sua entrada estão os rochedos que se entrechocam esmagando as almas dos maus quando estas querem passar entre eles. Vê-se como o sol passa por debaixo da terra. Vê-se também a ave do trovão, que é desta altura (um metro). Seus olhos são como as da arara, suas penas são vermelhas e no alto da sua cabeça ela traz um enorme penacho. Abrindo e fechando este penacho, ela produz o raio e, quando corre para lá e para cá, o trovão."
A JUREMA é uma árvore (Mimosa Nigra Hu ) que floresce no agreste e na caatinga nordestina; da casca de seu tronco e de suas raízes se faz uma bebida que alimenta e dá força aos encantados do "outro-mundo". É também essa bebida que permite aos homens entrar em contato com o mundo espiritual e os seres que lá residem. Tal árvore se constitui enquanto símbolo mágico-sagrado e é núcleo de várias práticas mágico-religiosas de origem ameríndia. De fato, entre os diversos povos indígenas que habitaram ou habitam o nordeste, se fazia e em alguns deles ainda se faz uso ritual desta bebida.
Contudo, este culto este se difundiu dos Sertões e Agrestes nordestino em direção às grandes cidades do litoral, onde elementos das outras matrizes étnicas entraram em cena. Desse modo, o símbolo da árvore que liga o mundo terreno ao além e, embora amargo, dá sapiência aos que dela se alimentam, ganha novos significados, surgindo um mito com traços cristãos. Neste sentido, a Jurema surge como a árvore que escondeu a sagrada família, dos soldados de Herodes, durante a fuga para o Egito, ganhando desde então suas propriedades mágico-religiosas.

A jurema é um pau sagrado
Onde Jesus descansou
Que dá força e "ciência"
Ao bom mestre curador.

Ainda nessa perspectiva, juntaram-se na constituição desta forma de religiosidade popular, outros elementos de origem européia como a magia e o culto aos santos do catolicismo popular. Da matriz africana, incorporou o sacrifício de animais, como realizado entre os Xangôs nordestinos, além de algumas divindades do panteão Yorubá. As constantes ondas migratórias entre o interior e o litoral devem ter influenciado nestes intercâmbios de elementos simbólicos no culto. E com esta configuração ele se espalha em algumas capitais nordestinas, como Recife, Paraíba, Maceió (onde resido atualmente) e Natal. A Jurema é a encontrada na cidade do Recife (onde residi durante 11 anos, durante minha adolescência), em terreiros localizados em sua grande maioria nos bairros periféricos da cidade. Dimensionado os limites espaço-temporais do presente trabalho, um primeiro ponto a ser considerado é que o culto à Jurema não se dá de forma padronizada entre os diversos grupos existentes. Como dizem os juremeiros: "Jurema? Cada uma tem a sua, a minha eu cultuo como aprendi com fulano... (sic.)"
"A Jurema de sicrano ..., ele dá bode ao mestre dele, na minha eu não cultuo com sangue...(sic.)". Contudo, em meio às diferenças, existe um complexo de ritos e crenças que os juremeiros compartilham e que permite distinguir o culto à Jurema de outras formas concorrentes de religiosidade popular, em especial do Xangô e da Umbanda como praticadas no Recife. O que chamaremos aqui, complexo mágico-religioso da Jurema, envolve como padrão a ingestão da bebida feita com partes da Jurema, o uso ritual do tabaco, o transe de possessão por seres encantados, além da crença em um mundo espiritual onde as entidades residem. Passaremos então a buscar, dentre os rituais observados em várias casas religiosas do Recife, os elementos que possibilitem melhor caracterizar o complexo mágico-religioso do Culto à Jurema. Enfocaremos, então, o mundo espiritual e o panteão de encantados, os artefatos religiosos, os rituais, enfim, a visão de mundo existente entre os juremeiros.

O Mundo Espiritual e Sua Representação no Mundo dos Vivos

"Abrindo a Mesa, com Luz e Amor
Abrindo as Portas do Juremá
Chamando os Guias
Para trabalhar."

Quem já assistiu uma reunião de Jurema, deve lembrar dessa toada, cantada no início das sessões, para convidar os "Senhores Mestres do outro-mundo" a participarem do mundo dos vivos. Para os juremeiros paraibanos e pernambucanos este mundo espiritual tem o nome de JUREMÁ e é composto por reinados, cidades e aldeias. Nestes Reinos e Cidades residem os encantados: os Mestres e os Caboclos. "Cada aldeia tem três `mestres'. Doze aldeias fazem um Reino com 36 `mestres'. No reino há cidades, serras, florestas, rios. Quantos são os Reinos? Sete, segundo uns. Vajucá, Tigre, Candindé, Urubá, Juremal , Fundo do Mar, e Josafá. Ou cinco, ensinam outros. Vajucá, Juremal, Tanema, Urubá e Josafá".
A JUREMA é a cidade-estado deste mundo espiritual. Em Alhandra, localidade do litoral paraibano, considerada por muitos o berço de uma grande linhagem de catimbozeiros e mestres do além, como Manoel Inácio e Maria do Acais, que lá formaram escola quando em vida; as árvores de Jurema cultivadas pelos catimbozeiros são consideradas as próprias cidades espirituais. "A `cidade' mais antiga de jurema, cujo pé de jurema teria sido plantado pelo `mestre Inácio', regente dos índios, é o arbusto velho e enorme que se encontra na atual propriedade `Estiva'... O arbusto é sempre venerado, e muitas vezes há velas acesas ao anoitecer. ... O lugar é chamado pelos entendidos de `cidade do Major do Dias'... Mestre Inácio e o mestre Major do Dias foram proprietários de Estiva. O atual proprietário, o mestre Adão, um dia tornar-se-á também `mestre' do além depois que o seu espírito for lavado ."
Entre os recifences, talvez pela falta de espaço nos locais de culto, troncos da planta são assentados em recipientes de barro e simbolizam as cidades dos principais mestres das casas. Estes troncos, juntamente com as princesas e príncipes, com imagens de santos católicos e de espíritos afro-ameríndios, maracas e cachimbos, constituirão as Mesas de Jurema. Chama-se Mesa o altar junto ao qual são consultados os espíritos e onde são oferecidas as obrigações que a eles se deva. As princesas são vasilhas redondas de vidro ou de louça dentro das quais são preparadas à bebida sagrada e, em ocasiões especiais, onde são oferecidos alimentos ou bebidas aos encantados. Os príncipes são taças ou copos, que normalmente estão cheios com água e eventualmente com alguma bebida do agrado da entidade. É comum vê-se nas mesas mais elaboradas uma complexa arrumação onde entra na composição príncipes, princesas e trocos. O príncipe ou a princesa é a menor unidade de simbolização de uma entidade espiritual. Todo Juremeiro deve ter, ao menos um destes dedicado ao seu mestre e assentado em sua mesa. Contudo, de acordo com a disponibilidade financeira, pode-se constituir todo um "estado espiritual" – as cidades dominadas por uma determinada entidade. Confecciona-se um estado através do uso de uma princesa tendo ao seu centro um príncipe e em seu derredor mais seis deles. Para complementar este artefato, entraria o tronco da árvore sagrada, que pode ficar no centro da mesa ou em baixo dela. Para alguns entendidos no culto, é no troco – junto com outros apetrechos que a entidade que o domina solicita que seja nele depositado – onde estaria o verdadeiro segredo de uma "Jurema plantada". Portanto, eles argumentam que este deveria ficar longe dos olhos dos curiosos, normalmente em baixo da mesa. Como adverte uma das toadas: "A Ciência da Jurema / Todos querem saber / Mas é feito casa de abelha / Trabalha que ninguém vê." Em cima do tronco, sobre a mesa, ficaria, a vista de todos, o jogo de príncipes e princesas.

Os Habitantes do Juremá

Duas categorias de entidades espirituais tem seus assentamentos nas mesas de Jurema, os Caboclos e os Mestres.

Os Caboclos e Índios
I
"Fui pra mata, fui caçar
Atirei no que não vi
Acertei passo sagrado,
Era um Pitiguarí.

II

Mas, Tupã me perdoou
Hoje eu não caço mais
Me chamo Flecha Dourada,
Protetor dos animais."

(Jurema de mesa)

Os Caboclos são identificados como entidades indígenas que trabalham principalmente com a cura através do conhecimento das ervas. Durante a estada destas entidades nos terreiros, incorporadas nos médiuns, dão passes e realizam benzeduras com ervas e folhagens. São associados às correntes espirituais mais elevadas, as que trabalham para o bem, mas que também podem ser perigosas quando usados contra alguém. Por isso são muito temidos. "... na antiguidade se tina muito medo dos caboclos por causa das flechadas. A flechada de um índio é pior que o trabalho de um mestre... só algumas pessoas que sabem mexer e botar a mão ali dentro"
Nas Mesas o caboclo é simbolizado por príncipes, estátuas de índios e apetrechos confeccionados por ameríndios ou inspirados neles como cocares, flechas, preiacas, colares, etc. Os caboclos comem frutas, flores, mel, carne bovina ou peixe, que pode ser crua, cozida no vinho, ou assada na brasa. Com a introdução de sacrifício de animais nas práticas juremistas, é comum oferecer-lhes pequenos animais como passarinhos, preás, coelhos e outro "bichos de caça". São oferecidos ainda raízes como a mandioca, a batata doce e alimentos confeccionados a partir delas. Alguns juremeiros oferecem vinho branco a estas entidades, outros apenas suco de frutas e refrigerantes como o guaraná. Normalmente os caboclos não fumam e no momento das reuniões e giras a eles destinadas não se deve fumar; contudo alguns caboclos se utilizam destes elementos. No caso dos caboclos que utilizem do tabaco em seus trabalhos, nas oferendas estes devem se fazer presentes na forma em que o caboclo em questão mais se agradar (cachimbo ou cigarro de palha ou charuto). Completam as oferendas as bugias ou inãs, as velas. Na incorporação vê-se três estereótipos relacionados ao gênero e a faixa etária destas entidades: Os caboclos crianças, sejam de um sexo ou de outro, descem pedindo mel, balas e frutas. São pouco ascéticos quando comem estes alimentos, depositando e misturando os ingredientes no próprio chão dos terreiros. É costume, ainda, lambuzarem a si e aos com que compartilham de seu alimento. Muitas vezes querem comer pequenos insetos e répteis que encontrem nas casas de culto, sob a argumento de que nas matas comem destes animais. São brincalhões e falam uma linguagem infantilizada do tipo tati-bi-tati. Os caboclos adultos do sexo masculino tem o semblante carrancudo. Sua voz , normalmente faz-se ouvir claramente. Descem em geral estalando os dedos e emitindo um som sibilante. Quando em reuniões, onde não haja o batuque dos tambores, dançam em círculo, dobrando um joelho e deixando a outra perna atrás. Nas festas a sua coreografia muda assumindo os passos dançados pelos "caboclinhos" dos folguedos populares do carnaval pernambucano. As caboclas tem uma expressão facial de maior suavidade e, normalmente, falam uma linguagem onde se intercala no início das palavras a sílaba si.

Os Mestres

É morão que não bambeia
É morão que não bambeia
Os Mestres da Jurema
É morão que não bambeia.
(Gira de Jurema)

Uma outra categoria de entidades que recebem culto na Jurema é a dos Mestres. Ao que parece o termo mestre é de origem portuguesa, onde tinha o sentido tradicional de médico, ou segundo Câmara Cascudo de feiticeiro. De forma geral, os mestres são descritos como espíritos curadores de descendência escrava ou mestiça (índio com negro ou branco com uma das duas outras raças). Dizem os juremeiros que os mestres foram pessoas que, quando em vida, trabalharam nas lavouras e possuíam conhecimento de ervas e plantas curativas. Por outro lado, algo trágico teria acontecido e eles teriam "se passado" (morrido), se encantando, podendo assim voltar para "acudir" os que ficaram "neste vale de lágrimas". Alguns deles se iniciaram nos mistérios e "ciência" da Jurema antes de morrer, como o mestre Inácio ou Maria do Acais e toda a linhagem de catimbozeiros de Alhandra, que após um ritual denominado "lavagem" ganham um lugar nas cidades espirituais e passam a incorporar nos discípulos que formaram. Outros adquiriram esse conhecimento no momento da morte, pelo fato desta ter acontecido próximo a um espécime da árvore sagrada. No panteão juremista, existem vários mestres e mestras, cada qual responsável por uma atividade relacionada aos diversos campos da existência humana (cura de determinadas doenças, trabalho, amor...). Há ainda aqueles especialistas em fazer trabalhos contra os inimigos. Nas mesas, as representações das entidades relacionadas nesta categoria são as mais elaboradas, geralmente possuindo o estado completo e a "jurema plantada"; em especial a do "mestre da casa", aquele que incorpora no juremeiro, faz as consultas e iniciam os afilhados nos segredos do culto. Por tudo isso esse mestre é carinhosamente chamado de "meu padrinho". Cada mestre está associado a uma cidade espiritual e a uma determinada planta de "ciência" (angico, vajucá, junça, quebra-pedra, palmeira, arruda, lírio, angélica, imburana de cheiro e a própria Jurema, entre outros vegetais), existindo ainda alguns relacionados a fauna nordestina (mamíferos – guará, preá; aves – gavião, periquito, arara, pitiguarí; insetos – abelhas, besouro mangangá; répteis). Para os mestres relacionados a uma outra planta que não a Jurema, são estas plantas (quando arvores) que tem seus trocos plantados nas mesas dos discípulos.

I
"No outro mundo, do lado de lá!
No outro mundo, do lado de cá!
Tem um pé de árvore, Angico real.
Tem um pé de Jurema, tem um pé de Jucá,
Tem um pé de árvore, Angico Real.

II
Ai meu Deus, Mestre Angico sou eu.
Ai meu Deus, Mestre Angico será.
Os anjinhos tão no céu, a sereia no mar.
Ai meu deus mestre Angico Reá.
(Jurema de Mesa)

Por exemplo, a cidade de Mestre Angico deve ser plantada em um troco da árvore do mesmo nome; as cidades das mestras geralmente são plantadas em trocos de imburana de cheiro. No caso dos mestres que tem relação com vegetais, são daquelas espécies que tiram a força e a "ciência" para trabalhar. Os que tem relação com animais, acredita-se que eles possam encantar-se em animais das espécies referidas, aparecendo em sonhos, visagens e, muitas vezes, assim metamorfoseados quando incorporados em seus discípulos. Nesta categoria, como entre os caboclos, há uma distinção do gênero das entidades. Distinção que irá determinar seus atributos e como devem ser cultuadas. O símbolo dos mestres masculinos é o cachimbo ou "marca", cujo poder está na fumaça que tanto mata como cura, dependendo se a fumaçada é "as esquerdas" ou "as direitas". Essa relação com a "magia da fumaça" é expressa nos assentamentos dos mestres, onde sempre se encontra presente "rodias" de fumo de rolo, nos cachimbos e nas toadas:

I
Setenta anos,
Passei no pé da Jurema.
Mas eu não tenho pena
De quem me faça o mal.

II
Se eu me zangar
Eu toco fogo no rochedo
Meu cachimbo é um segredo
Agora vou me vingar.
(Jurema de Mesa e Gira de Jurema)

Como oferendas, os mestres recebem a cachaça, que nunca deve faltar quando estão presentes nos cultos, o fumo, seja nos charutos ou os utilizados nos cachimbos, alimentos preparados com crustáceos e moluscos diversos. Com essas iguarias, agrada-se e fortifica-se os mestres. A bebida feita com a entrecasca do caule ou raiz da Jurema e outras ervas de "ciência" (Junça, Angico, Jucá, entre outras) acrescidas à aguardente, é, entretanto, a maior fonte de força e "ciência", para estas entidades. Nos terreiros que sofreram maior influência dos cultos africanos, é comum o mestre receber sacrifícios de galos vermelhos, bodes e, muitas vezes, até de novilhos. Quando em terra, incorporados, os mestres já chegam embriagados, tombando de lado a lado e falando embolado. São brincalhões, chamam palavrões, mas o que falam é respeitado por todos. Durante o transe os mestres apresentam-se com o corpo ligeiramente voltados para a frente. Na dança as pernas tem os joelhos ligeiramente flexionados, o pé direito vai a frente e dá dois passos para o mesmo lado, o pé esquerdo é arrastado; é então a vez do pé esquerdo ir a frente no mesmo estilo de dança; variações vão sendo executadas tendo como base o ritmo dos Ilus e a letra das toadas. Quanto as Mestras, reconhece-se seus assentamentos pela presença de leques, bijuterias, piteiras, cigarros e cigarrilhas. Como no caso dos mestres, existe uma infinidade destas entidades, com atributos e especialidades nas questões mundanas e espirituais. Algumas casas fazem uma distinção entre as mestras que trabalham "nas esquerdas" e "nas direitas". Nesta última categoria, encontram-se mestras como a Gertrudes e a Lorinda, ambas parteiras na vida material e hoje ajudam as mulheres no dar a luz a mais um "ser vivente". Algumas mestras morreram virgens, por isso ganharam o estatuto de princesas quando ingressaram nas moradas do além. Vale lembrar os nomes de algumas princesas como a Mestra Marianinha, a Princesa Catarina e a Princesa da Rosa Vermelha.

I
"Sou Princesa da Rosa Vermelha
Sou Princesa que venho ajudar
Sou Princesa dos campos de Anadir
O meu ponto venho afirmar

III
Vinde, vinde, vinde minhas irmãs
Vinde, vinde, vinde me ajudar
Eu sou a Princesa Elisa
O meu ponto venho afirmar
(Jurema de Mesa)

Contudo, não é fácil encontrar, atualmente, a manifestação de tais mestras; encontramos bem mais as chamadas "mestras das esquerda", entidades que em vida material foram "mulheres de vida fácil"; mulheres das ruas e dos cabarés nordestinos.

I
Homem pequeno
na minha cama não dormia,
Servia de cafetão,
nas horas que eu queria.

II
Mulher sozinha
é mulher de opinião,
É mulher de muitos homens
más só um no coração.

III
Eu vou dá uma,
vou da duas, vou dá três,
Se você me arretar,
eu dou quatro, cinco, seis.
(Gira de Jurema)

Lembremos das Mestras Paulina e Juvina, inimigas desde as "bandas de Maceió"; Mestra Ritinha que se passou com quinze anos na Rua da Guia, antigamente uma das mais populares zonas de baixo meretrício recifense e que hoje abriga bares freqüentados pela alta sociedade da cidade; Mestra Severina que residia no bairro do Pina e passeava no bonde do Loré quando este percorria as velhas ruas da capital pernambucana; Júlia Galega da Zona do Sul...

I
Tava na beira do Cais
Quando um naviu apitou
Um marinheiro me deu um abraço,
Apertou minha mão, minha boca beijou.

II
Ela é Julia Galega,
Foi num cabaré onde se passou
Seus cabelos loiros,
Na Jurema ela deixou.

III
É Julia Galega da Zona do Sul
Ela da lapada, tira o couro e come cru.
(Gira de Jurema)

Tais mestras são peritas nos "assuntos do coração", são elas que dão conselhos as moças e rapazes que queiram casar-se, que realizam as amarrações amorosas, que fazem e desfazem casamentos.

Todo jardim tem que ter uma flor,
Onde tem paz, tem que ter amor.
Home prá ser home, tem que ter mulher,
Dai-me um cigarro quem quiser Amélia chegou.
(Mesa de Jurema)

Muito vaidosas, quando incorporadas elas trasvestem os seus discípulos de forma a melhor aclimatar a "matéria" as suas performances femininas. Quanto a mudança corporal característica da incorporação das mestras, observamos que quando estão dançando geralmente mantém uma ou as duas mãos dobradas com a palma para fora, na altura da cintura ou quadris. Quando seguram um cigarro, a palma da mão fica sempre distendida e a mostra. Na dança os braços fazem arcos; ficam distendidos ao longo do contorno da roupa; em alguns momentos, geralmente quando canta-se toadas que falam do corpo ou da sensualidade feminina, as mãos passeiam pelo contorno da silhueta corporal. Quando entre seus afilhados e discípulos no mundo material, bebem cerveja, sidra e champanhe, embora não rejeitem outras bebidas que se lhes ofereça. Gostam de comer peixe assado que é depositado em suas princesas para lhes dar força para trabalhar. Algumas casas, as que se utilizam de sacrifícios a estas entidades, elas recebem galinhas, cabras e novilhas.

Outras entidades

Além dos caboclos e dos mestres, vem na jurema, mas com menos freqüência, os Pretos e Pretas Velhas. Espíritos de velhos escravos africanos, peritos em benzeduras e nos conselhos que dão a seus "netinhos" dos terreiros. Temos aqui, talvez, uma influência da Umbanda sobre o culto Juremista. Contudo a influência dos cultos africanos é melhor expressa na incorporação dos Exus e Pomba Giras ao panteão juremista. Na Jurema eles aparecem como os servos dos mestres ou como mestres menos esclarecidos e mais propícios aos trabalhos para o mal. Junta-se a este panteão os Santos da Igreja Católica, que são cumprimentados pelos mestres e caboclos, e os quais encontramos referências nas toadas e nas orações utilizadas nos fazeres mágicos ensinados pelos espíritos.

I
Minha Santa Terazinha,
Vós queira me ajudar.
Os trabalhos que eu fizer,
Outros não possam desmanchar.

II
Sou massapê,
Barrostroá!
Sou caboclo da Jurema,
Só faço o bem, não faço o mal.
(Jurema de Mesa)

Também encontramos em algumas Juremas os Orixás do Xangô. Em algumas casas se abre as giras de jurema cantando para os Deuses de origem africana depois de saudar Exu. Entretanto as toadas são, geralmente, em português como na Umbanda.

Caboclo Oxossi entrou na Jurema,
Mamãe Oxun levou para criar.
Mas ele é um rei caçador,
É filho da índia da cobra coral.
(Gira de Jurema e Jurema de Mesa)

Além disso, é comum os mestres indicarem serviços a serem feitos com o "povo da bunda grande" (modo como as entidades de jurema se referem ao culto dos Orixás), além de saberem quais os seus próprios Orixás de cabeça. Junte-se ainda o Deus Supremo, que é sempre saudado pelos mestres e caboclos: "quem pode mais do que Deus?" "Salve Deus!"

Os Ritos

Juremação e Tombo de Jurema

Olha o tombo na Jurema
No terreiro Juremar
Vou pedir força a meu pai
Licença pra trabalhar.
(Juremação)

Muitos juremeiros dizem que "um bom mestre já nasce feito"; contudo alguns ritos são utilizados para "fortificar as correntes" e dar mais conhecimento mágico-espiritual aos discípulos. O ritual mais simples, porem de "muita ciência" é o conhecido como "juremação", "implantação da semente", ou "Ciência da Jurema". Este ritual consiste em plantar no corpo do discípulo, por baixo de sua pele, uma semente da árvore sagrada. Existem três procedimentos para se chegar a "juremação" dos discípulos. Em um primeiro, o próprio mestre espiritual é o responsável pela implantação da semente. Esse mestre promete ao discípulo e após algum tempo, misteriosamente, surge a semente em uma parte qualquer do corpo. Um segundo procedimento é aquele em que o líder religiosos (o juremeiro) realiza um ritual especial, onde dá a seus afilhados a semente e o vinho de Jurema para beber. Após este rito, o iniciante deve abster-se de relações sexuais por sete dias consecutivos, período em que todas as noites ele deverá ser levado em sonhos, por seus guias espirituais, para conhecer as cidades e aldeias onde aqueles residem. Ao final deste período, a semente ingerida deverá reaparecer em baixo de sua pele. Caberá, ainda, ao iniciante contar ao seu iniciador o que viu em sonho para que este reconheça ou não a validade de suas viagens espirituais e, por conseguinte, da juremação. Num terceiro procedimento, o juremeiro implanta a semente da Jurema, através de um corte realizado na pele do braço.
Há ainda, geralmente concomitante a ciência de Jurema, um ritual conhecido como a "Ciência do Cachimbo". Este dará, ao iniciante, força em suas "cachimbadas". Tal "ciência" é dada através do sopro invertido do cachimbo, onde a fumaça é jogada pelo tubo do mesmo, diretamente sobre a pele do braço do iniciante, até que o calor queime o local.
O "Tombo de Jurema" se constitui no processo pelo qual muitos dos mestres, que hoje estão no mundo espiritual, passaram para ganhar a "Ciência". "Tombam" no pé da jurema e ao acordar estão prontos para trabalhar. Foi o caso do Mestre Carlos, famoso por seu dom de cura nas mesas de Jurema de todo o nordeste.

I
Ôh de casa Ôh de fora,
Quem é que me bate aí?
É Jesus, Nossa Senhora
As portas me vai abrir.

II
Ôh de casa Ôh de fora
Louvado seja meu deus!
Com Jesus, Nossa Senhora
Mestre Carlos apareceu.

III
Mestre Carlos é um bom mestre
Que nasceu sem se incinar
Três dias levou caido
Na rama do juremá
Quando se alevantou
Foi mestre prá trabalhar.
(Jurema de Mesa)

Contudo, nos terreiros, o rito foi tornado bem mais complexo que sua referência mítica. O tombamento consiste, então, no oferecimento de alimentos e sacrifícios às correntes espirituais do iniciante. Nele comem o Caboclo, o Mestre, a Mestra, o Exu e a Pomba Gira do iniciante. Acontece ainda a juremação, com a implantação da semente através do corte na pele e a viagem espiritual. A viagem deve acontecer no período que se intercala entre a oferta dos sacrifícios ao caboclo e a preparação das comidas oferecidas em banquete ritual. Ainda durante o sacrifício, o iniciante é levado, durante o transe, para "correr as cidades espirituais". O interessante e singular neste transe é que os adeptos acreditam que enquanto a pessoa (Ego) é levada para realizar a viagem espiritual, o caboclo permanece no corpo do iniciante. Concluído o sacrifício, passa-se à preparação das carnes dos animais e a partição das frutas e alimentos oferecidos aos encantados. O caboclo é alimentado com uma pequena porção de tudo que foi oferecido. Findo o banquete, o caboclo é então mandado de volta a sua cidade e o filho deverá contar ao seu iniciador o que viu. Se sua viagem for considerada válida segue-se os sacrifícios às demais entidades: o Mestre, a Mestra, o Exu e a Pomba Gira. No dia posterior, em animada festa, o caboclo, vestido a caráter, deverá, como na iniciação do Candomblé, gritar o seu nome e também cantar sua toada. O Iniciante também poderá vestir as demais entidades a quem "deu de comer". A riqueza deste ritual completo está intrinsecamente ligada as condições financeiras do iniciante.

Reuniões e Festas

Sexta-feira, 19:30 hs., seu Malunguinho já está em terra. Os seus afilhados cantam para agrada-lo. A uma ordem do Mestre-Caboclo-Exu, cachaça para os homens, vinho para as mulheres. Eventualmente a bebida feita com a Jurema também é compartilhada pelos presentes. Ninguém consegue ficar parado. A reunião prossegue e a vontade de dançar aumenta. Muitos ensaiam algumas das coreografias próprias dos toques de macumba. O espaço é mínimo, mas a vontade vence as limitações. O primeiro andar da casa da mãe carnal de Gilmar se transforma em um verdadeiro terreiro.
Outras entidades seguem o caminho aberto por seu Malunguinho e também se comunicam com os presentes através do corpo dos Juremeiros. Em Gilmar vêm o Mestre Junqueiro e a Mestra Paulina. Figuras consagradas dentro da "Sagrada Jurema". Uns ou outros vem, vez e outra, às reuniões semanais na casa/terreiro de Pai Gil no bairro de Brasília Teimosa, Zona Sul da cidade de Recife. Assim também é na casa de Pai Carlitos, no bairro do IPSEP, onde é a vez do Mestre Cibamba e da Mestra Severina tomarem a cena e comandarem os "trabalhos espirituais".
Nos terreiros menores, como os supra citados, onde os pais de santo ainda lutam para conquistar um espaço de destaque no concorrido mercado religioso da cidade, são os mestres e outras entidades dos próprios pais de santo que fazem a cena das noites de reunião. Nos terreiros já consolidados, os filhos com "mediunidade desenvolvida", Jurema plantada e cidades assentadas dividem e compartilham com os seus "Padrinhos de Jurema" os trabalhos e consultas a serem realizadas.
"Cada Jurema é uma Jurema"; existem muitas formas de se "trabalhar dentro da Ciência espiritual". Existem aqueles que realizam a Jurema de Mesa em seus terreiros. Os discípulos sentam ao redor de uma mesa, em cima destas alguns príncipes e princesas. Após louvar-se o nome do Nosso Senhor Jesus Cristo, exaltar-se a força da Jurema Sagrada e de outras Árvores encantadas, recitar-se uma oração Católica ou a "Prece de Cáritas", abre-se as sessões.
Uma "Mesa" pode ser aberta "pelas direitas" ou "pelas esquerdas". Nas abertas "pelas direitas", só as entidades mais elevadas devem se fazer presentes: Caboclos, Índios, Princesas e Mestres que já estão "perto de subir", todas "entidades de muita luz". Incorporadas elas dão passes, receitam banhos de ervas e defumações, além de cantarem seus pontos, afirmando assim sua força na Sagrada Jurema.
Quando se abre uma mesa "pelas esquerdas" qualquer tipo de entidade espiritual pode vir. Os trabalhos não precisam, necessariamente, visar o mal de alguém, contudo, aberto os trabalhos por este lado da "ciência", já é possível devolver aos inúmeros inimigos, que estão sempre a espreita, os males que estes possam estar fazendo.

Campos verdes, Campos verdes
Campos verdes do Senhor
Vamos virar os contrários
Pra cima de quem Mandou
Com as forças da Jurema
De Jesus Nosso Senhor

Em algumas casas as reuniões não ocorrem em redor de uma mesa, mas perto da "mesa/altar" onde encontram-se assentados os encantados da casa. Por vezes isso acontece pela falta de espaço no cômodo onde acontece a reunião, em outros casos deve-se ao fato do terreiro não possuir médiuns desenvolvidos, em número o suficiente para compor "a corrente" de uma mesa. Contudo as entidades são chamadas, quase sempre, na mesma seqüência quando as reuniões acontecem com os discípulos sentados ao redor de uma mesa. Orações e saudações feitas, canta-se para abrir a "mesa" e chamar os guias. Em algumas casas estes dão sua presença, afirmando que protegerão seus discípulos durante a realização dos trabalhos. Canta-se então para Malunguinho, o caboclo que pode vir como Mestre ou também como Exu. Para alguns ele é o verdadeiro Exu da Jurema. Em seguida canta-se para os demais caboclos do Juremá: Cabocla Aurora, Índio Tupi, Sete Flechas, Caboclo Guarací, os Tapuias e os Canidés, a própria Cabocla Jurema e seus "Capangueiros" do Além. Incorporando ou não eles são homenageados com toadas próprias. Subindo o último Índio ou Caboclo, é o momento de todos, exceto o juremeiro-mor, se prostrarem de joelhos no chão e pedir ao Juremá licença para entrar em seus domínios; é que os "Senhores Mestres" já vem chegando...

I
Ôh, Jurema encantada!
Que nasceu em frio chão!
Daí-me força e ciência.
Como destes a Salomão!

II
Rei Salomão bem que dizia
A seus filhos juremados
Para entrar na jurema, mestre!
Tem que Ter muito cuidado!

III
Rei Salomão bem que dizia
A seus filhos juremeiros
Para entrar na Jurema, mestre!
Tem que pedir lisensa primeiro

IV
Vamos salvar a Jurema, Mestre!
Vamos salvar Salomão
Vamos salvar a Jurema, Mestre!
Que é de nossa Obrigação.

V
Rei Salomão, Rei Salomão!
Arreia, Rial!
Rei Salomão do Juremá!
Arreia, Rial!
Eu vou chamar senhores Mestres!
Arreia, Rial!
Para com eles triunfar!
Arreia, Rial!

Os discípulos pedem benção aos Juremeiros mais velhos na casa. Saúdam com benzenções a Mesa da Jurema e os artefatos dos Mestres. A Jurema é dita aberta. Os Senhores Mestres começam a chegar. Parece ser este o momento que todos esperam, a chega dos Mestres e, quando estes se forem, a presença das Mestras. É o momento das consultas que sempre têm clientela certa. Momento onde coisas sérias são tratadas com irreverência, sem que no entanto percam a gravidade e o apresso dos mestres e mestras, sempre prontos a ajudar a seus afilhados. Nos casos mais graves, entretanto, o mestre logo marca um dia mais conveniente, onde poderá realizar "trabalhos em particular". É assim que o mestre, traz os recursos financeiros necessários para a manutenção da casa de culto e do seu discípulo.
As ocasiões de festa, os "toques de Jurema" ou "Macumbas", tem inicio com cantigas para Exu e em seguida para as Pomba Giras. Despachado os Exus, segue cantigas para Malunguinho e posteriormente para os outros Caboclos. Voltando os Caboclos para as suas aldeias, saúda-se a Sagrada Jurema e os mestres começam a chegar. Canta-se para que os mestres subam e inicia-se as toadas das mestras. Após a subida destas, uma Pai Nosso seguido de uma Ave Maria encerra o culto aos espíritos. Segue-se, então, os festejos com o Ajeum (comida profana), por vezes acompanhado de um "Coco de Roda" (dança popular).

A Jurema e o Campo Religioso Afro-brasileiro

Senhores Mestres do Outro Mundo
Do Outro Mundo e deste também
Quero fechar meus trabalhos, senhores mestres!
Nas horas de Deus, Amém.
(Jurema de Mesa, Toada de encerramento)

A literatura clássica sobre o Xangô do Recife, tende a colocar como distintas e incompatíveis o Culto à Jurema e o Xangô Tradicional. A tendência é tomar como um dos critérios para identificar o grau de tradicionalidade das casas de santo, a realização ou não de tal culto. Os que cultuam o panteão juremista são logo caracterizados como sincréticos (Umbanda e Xangô-Umbandizado). Entretanto, a literatura antropológica constatou de que a Jurema, mesmo que muitas vezes esteja discursivamente invisível, está presente em todos aqueles espaços religiosos. Mesmo nos Terreiros de Xangô mais tradicionais do Recife, alguns dos quais sem nenhum espaço ritualmente constituído para cultuar os espíritos da Jurema, estes reaparecem nas residências dos filhos de santo ou em terreiros afiliados (para os filhos que alcançaram a senioridade e abriram casas), recebendo culto de diversas formas.
Desse modo, não podemos entender a Jurema como uma forma secundária de religiosidade ou prática mágico-curandeirística. Embora, não possua ela uma existência autônoma, ou seja, ela apareça quase sempre relacionada a outras formas religiosas como o Xangô e a Umbanda, vemos a Jurema como tendo uma importância fundamental dentro dessas formas de religiosidade.
Nas conversas com o povo de santo, as pessoas falam que "A Jurema é quem dá o pão de cada dia", ou seja , é das consultas dadas pelas entidades e dos trabalhos por elas recomendados que vem grande parte do dinheiro para a manutenção da casa e de seus sacerdotes.
Além disso, mesmo almejando iniciar-se no culto aos Orixás e/ou aprofundar-se em seus "fundamentos" (para os que já tenham se iniciado), a grande maioria dos pais de santo iniciam sua carreira espiritual consultando seus clientes e filhos com as entidades de Jurema. "Que a Jurema é quem traz para o Candomblé. Porque você não vai virar com (...) Oxum pra fazer uma consulta. Totalmente errado (...) Agora receber Pomba Gira, Exu, Luziara (...) Ela consulta o consulente e ele sai alegre e satisfeito. Mas já o Orixá, de maneira alguma. É uma coisa totalmente fina (...) Então a Jurema é mais tranqüila para esse tipo de coisa." (Pai de Santo, Nação Gêge)
Pensando na clientela, junte-se outros fatores que contribuiem para a presença da Jurema nestes diversos espaços religiosos. Para uma pessoa que esteja entrando em contato com a religiosidade afro-brasileira, a Jurema causa menor estranhamento do que o culto aos Orixás. As entidades são brasileiras e foram quando em vida pessoas do povo, as toadas são em português e tanto elas como as conversas com as entidades versam sobre problemas inerentes ao dia-a-dia: dinheiro, trabalho, sexo, amor, saúde, etc.. Isso em um contato direto, face a face, com um ser sagrado (os deuses e deusas). Além disso, dizem os fieis, os resultados dos trabalhos feitos com as entidades da Jurema, além de mais baratos, tem um sucesso mais rápido."Eu já sou mais apegado com a Jurema, sabe? Não sou muito apegado com Orixás não. Eu gosto mais do Orixá, mas na hora do aperreio mesmo eu procuro mais a Jurema. Não sei se eu sinto mais força na Jurema ou se é a questão que eles falam, né? Sabem conversar então o santo em si não conversa, o santo chega, faz o que ele tem que fazer e vai se embora. Então, pra mim, o santo não ajuda outra pessoa, só ajuda os seus próprios filhos. Agora, a jurema não, a jurema dá pra encarar de um modo diferente. Que ela.... você pede pra falar com um mestre, você concentra, chama o mestre, o mestre vai ver o que está acontecendo, as vezes não precisa nem falar, se é um bom médium mesmo. (..) Ele já fala o que é que tá acontecendo e o que precisa ser feito. Então é isso que me apega mais com a Jurema." (Filho de Santo, Nação Angola)
Também o uso da bebida, que circula entre homens e seres divinos, todos bebendo de uma mesma taça, num crescendo de animação, promovidas pela própria bebida atrelada aos cânticos e danças e pelo contexto próprio, ou seja, um culto de religação como o mundo espiritual (e com tudo o que isso possa significar para cada um dos presentes), leva a mobilização da energia que faz de um aglomerado de pessoas um grupo. Nesta perspectiva, é de se ressaltar que é o Culto a Jurema entra como um dos elementos que atrai adeptos para os terreiros de Xangô e de Umbanda. Não é apenas o brilho das festas que atrai as pessoas para estas formas de religiosidade. A assistência prestada pelos encantados aos que a eles recorrem, já levou muitos católicos e mesmo protestantes a, em busca de alívio para as "mazelas do mundo", se tornarem juremeiros ou filhos-de-santo. Por outro lado, é nessa rotinização do pensar do grupo - os ritos - que os padrões de pensar e se comportar são passados para as pessoas que buscam o culto. A periodicidade com que acontecem, o fato de serem momentos de sociabilidade, faz das reuniões de Jurema a primeira instância de socialização dos grupos afro-brasileiros do Recife. É através dela que surge o sentimento de pertencimento que mantém as pessoas nos grupos. Ao nosso ver, atrair pessoas e manter vivo os grupos são o papel destas pequenas festas que são cada uma das reuniões de Jurema. Momento em que se vem fumar, beber e trocar idéias com os seres encantados do "outro mundo".

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Os Orixás em 2010 assumem uma postura rigorosa, condenando a má conduta sem levar em conta o perdão aos erros cometidos, por isso muito cuidado com os seus atos. A intensidade será um lema para o próximo ano, onde a busca pelo poder poderá ser a causa de grandes conflitos

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

LEI 10639

Presidência da RepúblicaCasa CivilSubchefia para Assuntos Jurídicos
LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.
Mensagem de veto
Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faz saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
“Art. 26-A”. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e políticas pertinentes à História do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e Histórias Brasileiras.
§ 3o (VETADO)"
"Art. 79-A. (VETADO)"
"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’."
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVACristovam Ricardo Cavalcanti Buarque


Presidência da RepúblicaCasa CivilSubchefia para Assuntos Jurídicos
MENSAGEM Nº. 7, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.
Senhor Presidente do Senado Federal,
Comunico a Vossa Excelência que, nos termos do § 1o do art. 66 da Constituição Federal, decidi vetar parcialmente, por contrariedade ao interesse público, o Projeto de Lei no 17, de 2002 (no 259/99 na Câmara dos Deputados), que "Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências".
Ouvido, o Ministério da Educação manifestou-se pelo veto aos seguintes dispositivos:
§ 3o do art. 26-A, acrescido pelo projeto à Lei no 9.394, de 1996:
“Art. 26-A”. ..........................................
............................................................
§ “3o As disciplinas História do Brasil e Educação Artística, no ensino médio, deverão dedicar, pelo menos, dez por cento de seu conteúdo programático anual ou semestral à temática referida nesta Lei.”
Razões do veto:
“Estabelece o parágrafo sob exame que as disciplinas História do Brasil e Educação Artística, no ensino médio, deverão dedicar, pelo menos, dez por cento de seu conteúdo programático anual ou semestral à temática História e Cultura Afro-Brasileira”.
A Constituição de 1988, ao dispor sobre a Educação, impôs claramente à legislação infraconstitucional o respeito às peculiaridades regionais e locais. Essa vontade do constituinte foi muito bem concretizada no caput do art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que preceitua: "Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela".
Parece evidente que o § 3o do novo art. 26-A da Lei no 9.394, de 1996, percorre caminho contrário daquele traçado pela Constituição e seguido pelo caput do art. 26 transcrito, pois, ao descer ao detalhamento de obrigar, no ensino médio, a dedicação de dez por cento de seu conteúdo programático à temática mencionada, o referido parágrafo não atende ao interesse público consubstanciado na exigência de se observar, na fixação dos currículos mínimos de base nacional, os valores sociais e culturais das diversas regiões e localidades de nosso país.
A Constituição, em seu art. 211, caput, ainda firmou como de interesse público a participação dos Estados e dos Municípios na elaboração dos currículos mínimos nacionais, preceito esse que foi concretizado no art. 9o , inciso IV da Lei no 9.394, de 1996, que diz caber à União "estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum". Esse interesse público também foi contrariado pelo citado § 3o , já que ele simplesmente afasta essa necessária colaboração dos Estados e dos Municípios no que diz respeito à temática História e Cultura Afro-Brasileira."
Art. 79-A, acrescido pelo projeto à Lei no 9.394, de 1996:
"Art. 79-A. Os cursos de capacitação para professores deverão contar com a participação de entidades do movimento afro-brasileiro, das universidades e de outras instituições de pesquisa pertinentes à matéria."
Razões do veto:
“O” art. 79-A, acrescido pelo projeto à Lei no 9.394, de 1996, preceitua que os cursos de capacitação para professores deverão contar com a participação de entidades do movimento afro-brasileiro, das universidades e de outras instituições de pesquisa pertinentes à matéria.
Verifica-se que a Lei no 9.394, de 1996, não disciplina e nem tampouco faz menção, em nenhum de seus artigos, a cursos de capacitação para professores. O art. 79-A, portanto, estaria a romper a unidade de conteúdo da citada lei e, conseqüentemente, estaria contrariando norma de interesse público da Lei Complementar no 95, de 26 de fevereiro de 1998, segundo a qual a lei não conterá matéria estranha a seu objeto (art. 7o, inciso II)."
Estas, Senhor Presidente, as razões que me levaram a vetar os dispositivos acima mencionados do projeto em causa, as quais ora submeto à elevada apreciação dos Senhores Membros do Congresso Nacional.
Lei 10639 e parecer do CNE


Lei nº. 10.639, de 9 de janeiro de 2003


Altera a Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e da outras providencias.


O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º A Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79 - B:
“Art. 26- A.”. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinente à História do Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e Histórias Brasileiras.
§ 3º (VETADO)"
"Art. 79 -A. (VETADO)"
"Art. 79 -B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como 'Dia Nacional da Consciência Negra' ."
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182º da Independência e 115º da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA























MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

INTERESSADO: Conselho Nacional de Educação
UF: DF
ASSUNTO: Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
CONSELHEIROS: Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva (Relatora), Carlos Roberto Jamil Cury, Francisca Novantino Pinto de Ângelo e Marília Ancona-Lopez
PROCESSO Nº.: 23001.000215/2002-96
PARECER Nº.: CNE/CP 003/2004
COLEGIADO: CP
APROVADO EM:
10/03/2004





I - RELATÓRIO

Este parecer visa a atender os propósitos expressos na Indicação CNE/CP 06/2002, bem como regulamentar a alteração trazida à Lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pela Lei 10.639/2003 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica. Desta forma, busca cumprir o estabelecido na Constituição Federal nos seus Art. 5º, I, Art. 210, Art. 206, I, 1º DO Art. 242, Art. 215 e Art. 216, bem como nos Art. 26, 26 A e 79 B na Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que asseguram o direito à igualdade de condições de vida e de cidadania, assim como garantem igual direito às histórias e culturas que compõem a nação brasileira, além do direito de acesso às diferentes fontes da cultura nacional a todos os brasileiros.
Juntam-se a preceitos analógicos os Art. 26 e 26 A da LDB, como os das Constituições Estaduais da Bahia (Art. 175, IV e 288), do Rio de Janeiro (Art. 303), de Alagoas (Art.253), assim como de Leis Orgânicas, tais como a de Recife (Art. 138), de Belo Horizonte (Art. 182,VI), a do Rio de Janeiro (Art. 321, VIII), além de leis ordinárias, como lei municipal n.º.685, de 17 de janeiro de 1994, de Belém, a Lei Municipal n.º.973, de 4 de janeiro de 1996, de São Paulo.
Junta-se, também, ao disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.096, de 13 de junho de 1990), bem como no Plano Nacional de educação (Lei 10.172, de 9 de janeiro de 2001).
Todos estes dispositivos legais, bem como reivindicações e propostas do Movimento Negro ao longo do século XX, apontam para a necessidade de diretrizes que orientem a formulação de projetos empenhados na valorização da história e cultura dos afro-brasileiros e dos africanos, assim como comprometidos com a educação de relações étnico-raciais positivas, a que tais conteúdos devem conduzir.
Destina-se, o parecer, aos administradores dos sistemas de ensino, de mantenedoras de estabelecimentos de ensino, aos estabelecimentos de ensino, seus professores e a todos implicados na elaboração, execução, avaliação de programas de interesse educacional, de planos institucionais, pedagógicos e de ensino. Destina-se, também, às famílias dos estudantes, a eles próprios e a todos os cidadãos comprometidos com a educação dos brasileiros, para nele buscarem orientações, quando pretenderem dialogar com os sistemas de ensino, escolas e educadores, no que diz respeito às relações étnico-raciais, ao reconhecimento e valorização da história e cultura dos afro-brasileiros, à diversidade da nação brasileira, ao igual direito à educação de qualidade, isto é, não apenas direito de estudo, mas também à formação para a cidadania, responsável pela construção de uma sociedade justa e democrática.
Em vista disso, foi feita consulta sobre as questões objeto deste parecer, por meio de questionário encaminhado a grupos do Movimento Negro, a militantes individualmente, aos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação, a professores que vêm desenvolvendo trabalhos que abordam a questão racial, a pais de alunos, enfim a cidadãos empenhados com a construção de uma sociedade justa, independentemente de seu pertencimento racial. Encaminharam-se em torno de 1000 questionários e o responderam individualmente ou em grupo 250 mulheres e homens, entre crianças e adultos, com diferentes níveis de escolarização. Suas respostas mostraram a importância de se tratarem problemas, dificuldades, dúvidas, antes mesmo de o parecer traçar orientações, indicações, normas.

Questões introdutórias

O parecer procura oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afro descendente, no sentido de políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura, identidade. Trata, ele, de política curricular, fundada em dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e as discriminações que atingem particularmente os negros. Nesta perspectiva, propõe à divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial - descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos - para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada.
É importante salientar que tais políticas têm como meta o direito dos negros se reconhecerem na cultura nacional, expressarem visões de mundo próprias, manifestarem com autonomia, individual e coletiva, seus pensamentos. É necessário sublinhar que tais políticas têm, também, como meta o direito dos negros, assim como de todos cidadãos brasileiros, cursarem cada um dos níveis de ensino, em escolas devidamente instaladas e equipadas, orientados por professores qualificados para o ensino das diferentes áreas de conhecimentos: com formação para lidar com as tensas relações produzidas pelo racismo e discriminações, sensíveis e capazes de conduzir a reeducação das relações entre diferentes grupos étnico-raciais, ou seja, entre descendentes de africanos, de europeus, de asiáticos, e povos indígenas. Estas condições materiais das escolas e de formação de professores são indispensáveis para uma educação de qualidade, para todos, assim como é o reconhecimento e valorização da história, cultura e identidade dos descendentes de africanos.

Políticas de reparações, de Reconhecimento e Valorização, de Ações Afirmativas

A demanda por reparações visa a que o Estado e a sociedade tomem medidas para ressarcir os descendentes de africanos negros, dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e educacionais sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude das políticas explícitas ou tácitas de branqueamento da população, de manutenção de privilégios exclusivos para grupos com poder de governar e de influir na formulação de políticas, no pós-abolição. Visa também a que tais medidas se concretizem em iniciativas de combate ao racismo e a toda sorte de discriminações.
Cabe ao Estado promover e incentivar políticas de reparações, no que cumpre ao disposto na Constituição Federal, Art. 205, que assinala o dever do Estado de garantir indistintamente, por meio da educação, iguais direitos para o pleno desenvolvimento de todos e de cada um, enquanto pessoa, cidadão ou profissional. Sem a intervenção do Estado, os postos à margem, entre eles os afro-brasileiros, dificilmente, e as estatísticas o mostram sem deixar dúvidas, romperão o sistema meritocrático que agrava desigualdades e gera injustiça, ao reger-se por critérios de exclusão, fundados em preconceitos e manutenção de privilégios para os sempre privilegiados.
Políticas de reparações voltadas para a educação dos negros devem oferecer garantias a essa população de ingresso, permanência e sucesso na educação escolar, de valorização do patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro, de aquisição das competências e dos conhecimentos tidos como indispensáveis para continuidade nos estudos, de condições para alcançar todos os requisitos tendo em vista a conclusão de cada um dos níveis de ensino, bem como para atuar como cidadãos responsáveis e participantes, além de desempenharem com qualificação uma profissão.
A demanda da comunidade afro-brasileira por reconhecimento, por valorização e afirmação de direitos, no que diz respeito à educação, passou a ser particularmente apoiada com a promulgação da Lei 10.639/2003, que alterou a Lei 9394/1996, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas.
Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais e econômicos, bem como valorização da diversidade daquilo que distingue os negros dos outros grupos que compõem a população brasileira. E isto requer mudança nos discursos, raciocínios, lógicas, gestos, posturas, modo de tratar as pessoas negras. Requer também que se conheça a sua história e cultura apresentadas, explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito da democracia racial na sociedade brasileira; mito este que difunde a crença de que, se os negros não atingem os mesmos patamares que os não negros, é por falta de competência ou de interesse, desconsiderando as desigualdades seculares que a estrutura social hierárquica cria com prejuízos para os negros.
Reconhecimento requer a adoção de políticas educacionais e de estratégias pedagógicas de valorização da diversidade, a fim de superar a desigualdade étnico-racial presente na educação escolar brasileira, nos diferentes níveis de ensino.
Reconhecer exige que se questionem relações étnico-raciais baseadas em preconceitos que desqualificam os negros e salientam estereótipos depreciativos, palavras e atitudes que, velada ou explicitamente violentas, expressam sentimentos de superioridade em relação aos negros, próprios de uma sociedade hierárquica e desigual.
Reconhecer é também valorizar, divulgar e respeitar os processos históricos de resistência negra desencadeados pelos africanos escravizados no Brasil e por seus descendentes na contemporaneidade, desde as formas individuais até as coletivas.
Reconhecer exige a valorização e respeito às pessoas negras, à sua descendência africana, sua cultura e história. Significa buscar, compreender seus valores e lutas, ser sensível ao sofrimento causado por tantas formas de desqualificação: apelidos depreciativos, brincadeiras, piadas de mau gosto sugerindo incapacidade, ridicularizando seus traços físicos, a textura de seus cabelos, fazendo pouco das religiões de raiz africana. Implica criar condições para que os estudantes negros não sejam rejeitados em virtude da cor da sua pele, menosprezados em virtude de seus antepassados terem sido explorados como escravos, não sejam desencorajados de prosseguir estudos, de estudar questões que dizem respeito à comunidade negra.
Reconhecer exige que os estabelecimentos de ensino, freqüentados em sua maioria por população negra, contem com instalações e equipamentos sólidos, atualizados, com professores competentes no domínio dos conteúdos de ensino, comprometidos com a educação de negros e brancos, no sentido de que venham a relacionar-se com respeito, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes e palavras que impliquem desrespeito e discriminação.
Políticas de reparações e de reconhecimento formarão programas de ações afirmativas, isto é, conjuntos de ações políticas dirigidas à correção de desigualdades raciais e sociais, orientadas para oferta de tratamento diferenciado com vistas a corrigir desvantagens e marginalização criadas e mantidas por estrutura social excludente e discriminatória. Ações afirmativas atendem ao determinado pelo Programa Nacional de Direitos Humanos, bem como a compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, com o objetivo de combate ao racismo em todas as formas de ensino, bem como a Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Discriminações Correlatas de 2001.
Assim sendo, sistemas de ensino e estabelecimentos de diferentes níveis converterão as demandas dos afro-brasileiros em políticas públicas de Estado ou institucionais, ao tomarem decisões e iniciativas com vistas a reparações, reconhecimento e valorização da história e cultura dos afro-brasileiros, à constituição de programas de ações afirmativas, medidas estas coerentes com um projeto de escola, de educação, de formação de cidadãos que explicitamente se esbocem nas relações pedagógicas cotidianas. Medidas que, convém, sejam compartilhadas pelos sistemas de ensino, estabelecimentos, processos de formação de professores, comunidade, professores, alunos e seus pais.
Medidas que repudiam, como prevê a Constituição Federal em seu Art.3º, IV, o "preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação" e reconhecem que todos são portadores de singularidade irredutível e que a formação escolar tem de estar atenta para o desenvolvimento de suas personalidades (Art.208,IV).




Educação das relações étnico-raciais

O sucesso das políticas públicas de Estado, institucionais e pedagógicas, visando a reparações, reconhecimento e valorização da identidade, da cultura e da história dos negros brasileiros depende necessariamente de condições físicas, materiais, intelectuais e afetivas favoráveis para o ensino e para aprendizagens; em outras palavras, todos os alunos negros e não negros, bem como seus professores, precisam sentir-se valorizados e apoiados. Depende também, de maneira decisiva, da reeducação das relações entre negros e brancos, o que aqui estamos designando como relações étnico-raciais. Depende, ainda, de trabalho conjunto, de articulação entre processos educativos escolares, políticas públicas, movimentos sociais, visto que as mudanças éticas, culturais, pedagógicas e políticas nas relações étnico-raciais não se limitam à escola.
É importante destacar que se entende por raça a construção social forjada nas tensas relações entre brancos e negros, muitas vezes simuladas como harmoniosas, nada tendo a ver com o conceito biológico de raça é utilizado com freqüência nas relações sociais brasileiras, para informar como determinadas características físicas, como cor de pele, tipo de cabelo, entre outras, influencias, interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social dos sujeitos no interior da sociedade brasileira.
Contudo, o termo foi ressignificado pelo Movimento Negro que, em várias situações, o utiliza com um sentido político e de valorização do legado deixado pelos africanos. È importante, também explicar que o emprego do termo étnico, na expressão étnico-racial, serve para marcar que essas relações tensas devidas a diferenças na cor da pele e traços fisionômicos o são também devido à raiz cultural plantada na ancestralidade africana, que difere em visão de mundo, valores e princípios das de origem indígena, européia e asiática.
Convivem, no Brasil, de maneira tensa, a cultura e o padrão estético negro e africano e um padrão estético e cultural branco europeu. Porém, a presença da cultura negra e o fato de 45¢ da população brasileira ser composta de negros (de acordo com censo do IBGE) não têm sido suficientes para eliminar ideologias, desigualdades e estereótipos racistas. Ainda persiste em nosso país um imaginário étnico-racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raízes européias da sua cultura, ignorando ou pouco valorizando as outras, que são a indígena, a africana e a asiática.
Os diferentes grupos, em sua diversidade, que constituem o Movimento Negro Brasileiro, têm comprovado o quanto é dura a experiência dos negros de ter julgados negativamente seu comportamento, idéias e intenções antes mesmo de abrirem a boca ou tomarem qualquer iniciativa. Têm, eles, insistido no quanto é alienante a experiência de fingir ser o que não é para ser reconhecido, de quão dolorosa pode ser a experiência de deixar-se assimilar por uma visão de mundo, que pretende impor-se como superior e por isso universal e que os obriga a negarem a tradição do seu povo.
Se não é fácil ser descendente de seres humanos escravizados e forçados a condição de objetos utilitários ou a semoventes, também é difícil descobrir-se descendente dos escravizadores, temer, embora veladamente, revanche dos que, por cinco séculos, têm sido desprezados e massacrados.
Para reeducar as relações étnico-raciais, no Brasil, é necessário fazer emergir as dores e medos que têm sido gerados. É preciso entender que o sucesso de uns têm o preço da marginalização e da desigualdade impostas a outros. E então decidir que sociedade queremos construir daqui para frente.
Como bem salientou Frantz Fanon, os descendentes dos mercadores de escravos, dos senhores de ontem, não têm, hoje, de assumir culpa pelas desumanidades provocadas por seus antepassados. No entanto, têm eles a responsabilidade moral e política de combater o racismo, as discriminações e juntamente com os que vêm sendo mantidos à margem, os negros, construir relações raciais e sociais sadias, em que todos cresçam e se realizem enquanto seres humanos e cidadãos. Não fossem por estas razões, eles a teriam de assumir, pelo fato de usufruírem do muito que o trabalho escravo possibilitou ao país.
Assim sendo, a educação das relações étnico-raciais impõe aprendizagens entre brancos e negros, trocas de conhecimentos, quebra de desconfianças, projeto conjunto para construção de uma sociedade justa, igual, equânime.
Combater o racismo, trabalhar pelo fim da desigualdade social e racial, empreender reeducação das relações étnico-raciais não são tarefas exclusivas da escola. As formas de discriminação de qualquer natureza não têm o seu nascedouro na, escola, porém o racismo, as desigualdades e discriminações correntes na sociedade perpassam por ali. Para que as instituições de ensino desempenhem a contento o papel de educar, é necessário que se constituam em espaço democrático de produção e divulgação de conhecimentos e de posturas que visam a uma sociedade justa. A escola tem papel preponderante para eliminação das discriminações e para emancipação dos grupos discriminados, ao proporcionar acesso aos conhecimentos científicos, a registros culturais diferenciados, à conquista de racionalidade que rege as relações sociais e raciais, a conhecimentos avançados, indispensáveis para consolidação e concerto das nações como espaços democráticos e igualitários.
Para obter êxito, a escola e seus professores não podem improvisar. Têm que desfazer mentalidade racista e discriminadora secular, superando o etnocentrismo europeu, reestruturando relações étnicos-racais e sociais, desalienando processos pedagógicos. Isto não pode ficar reduzido a palavras e a raciocínios desvinculados da experiência de ser inferiorizados vivida pelos negros, tampouco das baixas classificações que lhes são atribuídas nas escalas de desigualdades sociais, econômicas, educativas e políticas.
Diálogo com estudiosos que analisam, criticam essas realidades e fazem propostas, bem como com grupos do Movimento Negro, presentes nas diferentes regiões listados, assim como em inúmeras cidades, são imprescindíveis para que se vençam discrepâncias entre o que se sabe e a realidade, se compreendam concepções e ações, uns dos outros, se elabore projeto comum de combate ao racismo e a discriminações.
Temos, pois, pedagogias de combate ao racismo e a discriminações por criar. É claro que há experiências de professores e de algumas escolas, ainda isoladas, que muito vão ajudar.
Para empreender a construção dessas pedagogias, é fundamental que se desfaçam alguns equívocos. Um deles diz respeito à preocupação de professores no sentido de designar ou não seus alunos negros como negros ou como pretos, sem ofensas.
Em primeiro lugar, é importante esclarecer que ser negro no Brasil não se limita às características físicas. Trata-se, também , de uma escolha política. Por isso, o é quem se define. Em segundo lugar, cabe lembrar que preto é um dos quesitos utilizados pelo IBGE para classificar, ao lado dos outros - branco, pardo, indígena - a cor da população brasileira. Pesquisadores de diferentes áreas, inclusive da educação, para fins de seus estudos, agregam dados relativos a pretos e pardos sob a categoria negros, já que ambos reúnem, conforme alerta o Movimento Negro, aqueles que reconhecem sua ascendência africana.
É importante tomar conhecimento da complexidade que envolve o processo de construção da identidade negra em nosso país. Processo esse, marcado por uma sociedade que, para discriminar os negros, utiliza-se tanto da desvalorização da cultura de matriz africana como de aspectos físicos herdados pelos descendentes de africanos. Nesse processo complexo, é possível, no Brasil, que algumas pessoas de tez clara e traços físicos europeus, em virtude de o pai ou a mãe ser negro (a), se designarem negros; que outros, com traços físicos africanos, se digam brancos. É preciso lembrar que o termo negro começou a ser usado pelos senhores para designar pejorativamente os escravizados e este sentido negativo da palavra se estende até hoje. Contudo, o Movimento Negro ressignificou esse termo dando-lhe um sentido político e positivo. Lembremos os motes muito utilizados no final dos anos 1970 e no decorrer dos anos 1980, 1990: Negro é lindo! Negra, cor da raça brasileira! Negro que te quero negro! 100% Negro! Não deixe sua cor passar em branco! Este último utilizado na campanha do censo de 1990.
Outro equívoco a enfrentar é a afirmação de que os negros se discriminam entre si e que são racistas também. Essa constatação tem de ser analisada no quadro da ideologia do branqueamento que divulga a idéia e o sentimento de que as pessoas brancas seriam mais humanas, teriam inteligência superior e por isso teriam o direito de comandar e de dizer o que é bom para todos. Cabe lembrar que no pós-abolição foram formuladas políticas que visavam ao branqueamento da população pela eliminação simbólica e material da presença dos negros. Nesse sentido, é possível que pessoas negras sejam influenciadas pela ideologia do branqueamento e, assim, tendam a reproduzir o preconceito do qual são vítimas. O racismo imprime marcas negativas na subjetividade dos negros e também na dos que os discriminam.
Mais um equívoco a superar é a crença de que a discussão sobre a questão racial se limita ao Movimento Negro e a estudiosos do tema e não à escola. A escola, enquanto instituição social responsável por assegurar o direito da educação a todo e qualquer cidadão, deverá se posicionar politicamente, como já vimos, contra toda e qualquer forma de discriminação. A luta pela superação do racismo e da discriminação racial é, pois, tarefa de todo e qualquer educador, independentemente do seu pertencimento étnico-racial, crença religiosa ou posição política. O racismo, segundo o Artigo 5º da Constituição Brasileira, é crime inafiançável e isso se aplica a todos os cidadãos e instituições, inclusive, à escola.
Outro equívoco a esclarecer é de que o racismo, o mito da democracia racial e a ideologia do branqueamento só atingem os negros. Enquanto processos estruturantes e constituintes da formação histórica e social brasileira, estes estão arraigados no imaginário social e atingem negros, brancos e outro grupos étnico-raciais. As formas, os níveis e os resultados desses processos incidem de maneira diferente sobre os diversos e interpõem diferentes dificuldades nas suas trajetórias de vida escolar e social. Por isso, a construção de estratégias educacionais que visem ao combate do racismo é uma tarefa de todos os educadores, independentemente do seu pertencimento étnico-racial.
Pedagogias de combate ao racismo e a discriminações elaboradas com o objetivo fortalecer entre os negros e despertar entre os brancos a consciência negra. Entre os negros, poderão oferecer conhecimentos e segurança para orgulharem-se da sua origem africana; para os brancos, poderão permitir que identifiquem as influências, a contribuição, a participação e a importância da história e da cultura dos negros no seu jeito de ser, viver, de se relacionar com as outras pessoas, notadamente as negras. Também farão parte de um processo de reconhecimento, por parte do Estado, da sociedade e da escola, da dívida social que têm em relação ao segmento negro da população, possibilitando uma tomada de posição explícita contra o racismo e a discriminação racial e a construção de ações afirmativas nos diferentes níveis de ensino da educação brasileira.
Tais pedagogias precisam estar atentas para que todos, negros e não negros, além de ter aceso a conhecimentos básicos tidos como fundamentais para a vida integrada à sociedade, exercício profissional competente, recebam formação que os capacite para forjar novas relações étnico-raciais. Para tanto, há necessidade, como já vimos, de professores qualificados para o ensino das diferentes áreas de conhecimentos e, além disso, sensíveis e capazes de direcionar positivamente as relações entre pessoas de diferentes pertencimento étnico-racial, no sentido do respeito e da correção de posturas, atitudes, palavras preconceituosas. Daí a necessidade de se insistir e investir para que os professores, além de sólida formação na área específica de atuação, recebam formação que os capacite não só a compreender a importância das questões relacionadas à diversidade étnico-racial, mas a lidar positivamente com elas e sobretudo criar estratégias pedagógicas que possam auxiliar a reeducá-las.
Até aqui apresentaram-se orientações que justificam e fundamentam as determinações de caráter normativo que seguem.

História e Cultura Afro-Brasileira e Africana - Determinações

A obrigatoriedade de inclusão de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos da Educação Básica trata-se de decisão política, com fortes repercussões pedagógicas, inclusive na formação de professores. Com esta medida, reconhece-se que, além de garantir vagas para negros nos bancos escolares, é preciso valorizar devidamente a história e cultura de seu povo, buscando reparar danos, que se repetem há cinco séculos, à sua identidade e a seus direitos. A relevância do estudo de temas decorrentes da história e cultura afro-brasileira e africana não se restringem à população negra, ao contrário, dizem respeito a todos os brasileiros, uma vez que devem educar-se enquanto cidadãos atuantes no seio de uma sociedade multicultural e pluriétnica, capazes de construir uma nação democrática.
É importante destacar que não se trata de mudar um foco etnocêntrico marcadamente de raiz européia por um africano, mas de ampliar o foco dos currículos escolares para a diversidade cultural, racial, social e econômica brasileira. Nesta perspectiva, cabe às escolas incluir no contexto dos estudos e atividades, que proporciona diariamente, também as contribuições histórico-culturais dos povos indígenas e dos descendentes de asiáticos, além das de raiz africana e européia. É preciso ter clareza que o Art. 26A acrescido à Lei 9394/1996 provoca bem mais do que inclusão de novos conteúdos, exige que se repensem relações étnico-raciais, sociais, pedagógicas, procedimentos de ensino, condições oferecidas para aprendizagem, objetivos tácitos e explícitos da educação oferecida pelas escolas.
A autonomia dos estabelecimentos de ensino para compor os projetos pedagógicos, no cumprimento do exigido pelo Art. 26A da Lei 9394/1996, permite que se valham da colaboração das comunidades a que a escola serve, do apoio direto ou indireto de estudiosos do Movimento Negro, com os quais estabelecerão canais de comunicação, encontrarão formas próprias de incluir nas vivências promovidas pela escola, inclusive em conteúdos de disciplinas, as temáticas em questão. Caberá aos sistemas de ensino, às mantenedoras, a coordenação pedagógica dos estabelecimentos de ensino e aos professores, com base neste parecer, estabelecer conteúdos de ensino, unidades de estudos, projetos e programas, abrangendo os diferentes componentes curriculares. Caberá aos administradores dos sistemas de ensino e das mantenedoras prover as escolas, seus professores e alunos de material bibliográficos e de outros materiais didáticos, além de acompanhar os trabalhos desenvolvidos a fim de evitar que questões tão complexas, muito pouco tratadas, tanto na formação inicial como continuada de professores, sejam abordadas de maneira resumida, incompleta, com erros.
Em outras palavras, aos estabelecimentos de ensino está sendo atribuída responsabilidade de acabar com o modo falso e reduzido de tratar a contribuição dos africanos escravizados e de seus descendentes para a construção da nação brasileira; de fiscalizar para que, no seu interior, os alunos negros deixem de sofrem os primeiros e continuados atos de racismo de que são vítimas. Sem dúvidas, assumir estas responsabilidades implica compromisso com o entorno sociocultural da escola da comunidade onde esta se encontra e a que serve, compromisso com a formação de cidadãos atuantes e democráticos, capazes de compreender as relações sociais e étnico-raciais de que participam e ajudam a manter e /ou a reelaborar, capazes de decodificar palavras, fatos e situações a partir de diferentes perspectivas, de desempenhar-se em áreas de competências que lhes permitam continuar e aprofundar estudos em diferentes níveis de formação.
Precisa, o Brasil, país multi-étnico e pluricultural, de organizações escolares em que todos se vejam incluídos, em que lhe seja garantido o direito de aprender e de ampliar conhecimentos, sem ser obrigados a negar a si mesmos, ao grupo étnico/racial a que pertencem e a adotar costumes, idéias e comportamentos que lhes são adversos. E estes, certamente serão indicadores da qualidade da educação que estará sendo oferecida pelos estabelecimentos de diferentes níveis.
Para conduzir suas ações, os sistemas de ensino, os estabelecimentos e os professores terão como referência, entre outros pertinentes às bases filosóficas e pedagógicas que assumem, os princípios a seguir explicitados.

CONSCIÊNCIA POLÍTICA E HISTÓRICA DA DIVERSIDADE

Este princípio deve conduzir:
- à igualdade básica de pessoa humana como sujeito de direitos
- à compreensão de que a sociedade é formada por pessoas que pertencem a grupos étnico-raciais distintos, que possuem cultura e história próprias, igualmente valiosas e que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua história;
- ao conhecimento e à valorização da história dos povos africanos e da cultura afro brasileira na construção histórica e cultural brasileira;
- à superação da indiferença, injustiça e desqualificação com que os negros, os povos indígenas e também as classes populares às quais os negros, no geral, pertencem, são comumente tratados;
- à desconstrução, por meio de questionamentos e análises críticas, objetivando eliminar conceitos, idéias, comportamentos veiculados pela ideologia do branqueamento, pelo mito da democracia racial, que tanto mal fazem a negros e brancos;
- à busca, da parte de pessoas, em particular de professores não familiarizados com a análise das relações étnico-raciais e sociais com o estudo de história e cultura afro brasileira e africana, de informações e subsídios que lhes permitam formular concepções não baseadas em preconceitos e construir ações respeitosas;
- ao diálogo, via fundamental para entendimento entre diferentes, com a finalidade de negociações, tendo em vista objetivos comuns; visando a uma sociedade justa.

FORTALECIMENTO DE IDENTIDADES E DE DIREITOS

O princípio deve orientar para:
- o desencadeamento de processo de afirmação de identidades, de historicidade negada ou distorcida;
- o rompimento com imagens negativas forjadas por diferentes meios de comunicação, contra os negros e os povos indígenas;
- o esclarecimentos a respeito de equívocos quanto a uma identidade humana universal;
- o combate à privação e violação de direitos;
- a ampliação do acesso a informações sobre a diversidade da nação brasileira e sobre a recriação das identidades, provocada por relações étnico-raciais.
- as excelentes condições de formação e de instrução que precisam ser oferecidas, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, em todos os estabelecimentos, inclusive os localizados nas chamadas periferias urbanas e nas zonas rurais.

AÇÕES EDUCATIVAS DE COMBATE AO RACISMO E A DISCRIMINAÇÕES

O princípio encaminha para:
- a conexão dos objetivos, estratégias de ensino e atividades com a experiência de vida dos alunos e professores, valorizando aprendizagens vinculadas às suas relações com pessoas negras, brancas, mestiças, assim como as vinculadas às relações entre negros, indígenas e brancos no conjunto da sociedade;
- a crítica pelos coordenadores pedagógicos, orientadores educacionais, professores, das representações dos negros e de outras minorias nos textos, materiais didáticos, bem como providências para corrigi-las;
- condições para professores e alunos pensarem, decidirem, agirem, assumindo responsabilidade por relações étnico-raciais positivas, enfrentando e superando discordâncias, conflitos, contestações, valorizando os contrastes das diferenças;
- valorização da oralidade, da corporeidade e da arte, por exemplo, como a dança, marcas da cultura de raiz africana, ao lado da escrita e da leitura;
- educação patrimonial, aprendizado a partir do patrimônio cultural afro-brasileiro, visando a preservá-lo e a difundi-lo;
- o cuidado para que se dê um sentido construtivo à participação dos diferentes grupos sociais, étnico-raciais na construção da nação brasileira, aos elos culturais e históricos entre diferentes grupos étnico-raciais, às alianças sociais;
- participação de grupos do Movimento Negro, e de grupos culturais negros, bem como da comunidade em que se insere a escola, sob a coordenação dos professores, na elaboração de projetos político-pedagógicos que contemplem a diversidade étnico-racial.

Estes princípios e seus desdobramentos mostram exigências de mudança de mentalidade, de maneiras de pensar e agir dos indivíduos em particular, assim como das instituições e de suas tradições culturais. É neste sentido que se fazem as seguintes determinações:

- O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, evitando-se distorções, envolverá articulação entre passado, presente e futuro no âmbito de experiências, construções e pensamentos produzidos em diferentes circunstâncias e realidades do povo negro. É meio privilegiado para a educação das relações étnico-raciais e tem por objetivos o reconhecimento e valorização da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, garantia de seus direitos de cidadãos, reconhecimento e igual valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, européias, asiáticas.
- O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana se fará por diferentes meios, em atividades curriculares ou não, em que: - se explicite, busque compreender e interpretar, na perspectiva de quem o formule, diferentes formas de expressão e de organização de raciocínios e pensamentos de raiz da cultura africana; - promovam-se oportunidades de diálogo em que se conheçam, se ponham em comunicação diferentes sistemas simbólicos e estruturas conceituais, bem como se busquem formas de convivência respeitosa, além da construção de projeto de sociedade em que todos se sintam encorajados a expor, defender sua especificidade étnico-racial e a buscar garantias para que todos o façam; - sejam incentivadas atividades em que pessoas – estudantes, professores, servidores, integrantes da comunidade externa aos estabelecimentos de ensino – de diferentes culturas interatuem e se interpretem reciprocamente, respeitando os valores, visões de mundo, raciocínios e pensamentos de cada um.
- O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a educação das relações étnicoraciais, tal como explicita o presente parecer, se desenvolverão no cotidiano das escolas, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, como conteúdo de disciplinas, particularmente, Educação Artística, Literatura e História do Brasil, sem prejuízo das demais4, em atividades curriculares ou não, trabalhos em salas de aula, nos laboratórios de ciências e de informática, na utilização de sala de leitura, biblioteca, brinquedoteca, áreas de recreação, quadra de esportes e outros ambientes escolares.
- ensino de História Afro Brasileira abrangerá, entre outros conteúdos, iniciativas e organizações negras, incluindo a história dos quilombos, a começar pelo de Palmares, e de remanescentes de quilombos, que têm contribuído para o desenvolvimento de comunidades, bairros, localidades, municípios, regiões (Exemplos: associações negras recreativas, culturais, educativas, artísticas, de assistência, de pesquisa, irmandades religiosas, grupos do Movimento Negro). Será dado destaque a acontecimentos e realizações próprios de cada região e localidade.
- Datas significativas para cada região e localidade serão devidamente assinaladas. O 13 de maio, Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo, será tratado como o dia de denúncia das repercussões das políticas de eliminação física e simbólica da população afro brasileira no pós-abolição, e de divulgação dos significados da Lei áurea para os negros. No 20 de novembro será celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra, entendendo-se consciência negra nos termos explicitados anteriormente neste parecer. Entre outras datas de significado histórico e político deverá ser assinalado o 21 de março, Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.
- Em História da África, tratada em perspectiva positiva, não só de denúncia da miséria e discriminações que atingem o continente, nos tópicos pertinentes se fará articuladamente com a história dos afrodescendentes no Brasil e serão abordados temas relativos: - ao papel dos anciãos e dos griots como guardiãos da memória histórica; - à história da ancestralidade e religiosidade africana; - aos núbios e aos egípcios, como civilizações que contribuíram decisivamente para o desenvolvimento da humanidade; - às civilizações e organizações políticas pré-coloniais, como os reinos do Mali, do Congo e do Zimbabwe; - ao tráfico e à escravidão do ponto de vista dos escravizados; - ao papel dos europeus, dos asiáticos e também de africanos no tráfico; - à ocupação colonial na perspectiva dos africanos; - às lutas pela independência política dos países africanos; - às ações em prol da união africana em nossos dias, bem como o papel da União Africana, para tanto; - às relações entre as culturas e as histórias dos povos do continente africano e os da diáspora; à formação compulsória da diáspora, vida e existência cultural e histórica dos africanos e seus descendentes fora da África; - à diversidade da diáspora, hoje, nas Américas, Caribe, Europa, Ásia; - aos acordos políticos, econômicos, educacionais e culturais entre África, Brasil e outros países da diáspora.
- O ensino de Cultura Afro-Brasileira destacará o jeito próprio de ser, viver e pensar manifestado tanto no dia a dia, quanto em celebrações como congadas, moçambiques, ensaios, maracatus, rodas de samba, entre outras.
- O ensino de Cultura Africana abrangerá: - as contribuições do Egito para a ciência e filosofia ocidentais; - as universidades africanas Tambkotu, Gao, Djene que floresciam no século XVI; - as tecnologias de agricultura, de beneficiamento de cultivos, de mineração e de edificações trazidas pelos escravizados, bem como a produção científica, artística (artes plásticas, literatura, música, dança, teatro) política, na atualidade .
- O ensino de História e de Cultura Afro-Brasileira, far-se-á por diferentes meios, inclusive, a realização de projetos de diferentes naturezas, no decorrer do ano letivo, com vistas à divulgação e estudo da participação dos africanos e de seus descendentes em episódios da história do Brasil, na construção econômica, social e cultural da nação, destacando-se a atuação de negros em diferentes áreas do conhecimento, de atuação profissional, de criação tecnológica e artística, de luta social (tais como:Zumbi, Luiza Nahim, Aleijadinho, Padre Maurício, Luiz Gama, Cruz e Souza, João Cândido, André Rebouças, Teodoro Sampaio, José Correia Leite, Solano Trindade, Antonieta de Barros, Edison Carneiro,Lélia Gonzáles, Beatriz Nascimento, Milton Santos, Guerreiro Ramos, Clóvis Moura, Abdias do Nascimento, Henrique Antunes Cunha, Tereza Santos, Emmanuel Araújo, Cuti,Alzira Rufino, Inaicyra Falcão dos Santos, entre outros).
- O ensino de História e Cultura Africana se fará por diferentes meios, inclusive a realização de projetos de diferente natureza, no decorrer do ano letivo, com vistas à divulgação e estudo da participação dos africanos e de seus descendentes na diáspora, em episódios da história mundial, na construção econômica, social e cultural das nações do continente africano e da diáspora, destacando-se a atuação de negros em diferentes áreas do conhecimento, de atuação profissional, de criação tecnológica e artística, de luta social (entre outros: rainha Nzinga, Toussaint-Louverture, Martin Luther King, Malcon X, Marcus Garvey, Aimé Cesaire, Léopold Senghor, Mariama Bâ, Amílcar Cabral, Cheik Anta Diop, Steve Biko, Nelson Mandela, Aminata Traoré, Christiane Taubira).

Para tanto, os sistemas de ensino e os estabelecimentos de Educação Básica, nos níveis de Educação Infantil, Educação Fundamental, Educação Média, Educação de Jovens e Adultos, Educação Superior, precisarão providenciar:

- Registro da história não contada dos negros brasileiros, tais como em remanescentes de quilombos, comunidades e territórios negros urbanos e rurais.
- Apoio sistemático aos professores para elaboração de planos, projetos, seleção de conteúdos e métodos de ensino, cujo foco seja História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e a Educação das Relações Étnico-Raciais.
- Mapeamento e divulgação de experiências pedagógicas de escolas, estabelecimentos de ensino superior, secretarias de educação, assim como levantamento das principais dúvidas e dificuldades dos professores em relação ao trabalho com a questão racial na escola e encaminhamento de medidas para resolvê-las, feitos pela administração dos sistemas de ensino e por Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros.
- Articulação entre os sistemas de ensino, estabelecimentos de ensino superior, centros de pesquisa, Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, escolas, comunidade e movimentos sociais, visando à formação de professores para a diversidade étnico/racial.
- Instalação, nos diferentes sistemas de ensino, de grupo de trabalho para discutir e coordenar planejamento e execução da formação de professores para atender ao disposto neste parecer quanto à Educação das Relações Étnico-Raciais e ao determinado nos Art. 26 e 26A da Lei 9394/1996, com o apoio do Sistema Nacional de Formação Continuada e Certificação de Professores do MEC.
- Introdução, nos cursos de formação de professores e de outros profissionais da educação, de análises das relações sociais e raciais no Brasil; de conceitos e de suas bases teóricas, tais como racismo, discriminações, intolerância, preconceito, estereótipo, raça, etnia, cultura, classe social, diversidade, diferença, multiculturalismo; de práticas pedagógicas, de materiais e de textos didáticos, na perspectiva da reeducação das relações étnico-raciais e do ensino e aprendizagem da História e cultura dos Afro-brasileiros e dos Africanos.
- Inclusão de discussão da questão racial como parte integrante da matriz curricular, tanto dos cursos de licenciatura para Educação Infantil, os anos iniciais e finais da Educação Fundamental, Educação Média, Educação de Jovens e Adultos, como de processos de formação continuada de professores, inclusive de docentes no ensino superior.
- Inclusão, respeitada a autonomia dos estabelecimentos do Ensino Superior, nos conteúdos de disciplinas e em atividades curriculares dos cursos que ministra, de Educação das Relações Étnico-Raciais, de conhecimentos de matriz africana e/ou que dizem respeito à população negra. Por exemplo: em Medicina, entre outras questões, estudo da anemia falciforme, da problemática da pressão alta; em Matemática, contribuições de raiz africana, identificadas e descritas pela Etno-Matemática; em Filosofia, estudo da filosofia tradicional africana e de contribuições de filósofos africanos e afrodescendentes da atualidade.
- Inclusão de bibliografia relativa à história e cultura afro-brasileira e africana às relações étnico-raciais, aos problemas desencadeados pelo racismo e por outras discriminações, à pedagogia anti-racista nos programas de concursos públicos para admissão de professores.
- Inclusão, em documentos normativos e de planejamento dos estabelecimentos de ensino de todos os níveis - estatutos, regimentos, planos pedagógicos, planos de ensino - de objetivos explícitos, assim como de procedimentos para sua consecução, visando ao combate do racismo, a discriminações, ao reconhecimento, valorização e respeito das histórias e culturas afro-brasileira e africana.
- Previsão, nos fins, responsabilidades e tarefas dos conselhos escolares e de outros órgão colegiados, do exame e encaminhamento de solução para situações de racismo e de discriminações, buscando-se criar situações educativas em que as vítimas recebam apoio requerido para superar o sofrimento e os agressores, orientação para que compreendam a dimensão do que praticaram e ambos, educação para o reconhecimento, valorização e respeito mútuos.
- Inclusão de personagens negros, assim como de outros grupos étnico-raciais, em cartazes e outras ilustrações sobre qualquer tema abordado na escola, a não ser quando tratar de manifestações culturais próprias de um determinado grupo étnico-racial.
- Organização de centros de documentação, bibliotecas, midiotecas, museus, exposições em que se divulguem valores, pensamentos, jeitos de ser e viver dos diferentes grupos étnicoraciais brasileiros, particularmentedos afrodescendentes.
- Identificação, com o apoio dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, de fontes de conhecimentos de origem africana, a fim de selecionarem-se conteúdos e procedimentos de ensino e de aprendizagens.
- Incentivo, pelos sistemas de ensino, a pesquisas sobre processos educativos orientados por valores, visões de mundo, conhecimentos afro-brasileiros e indígenas, com o objetivo de ampliação e fortalecimento de bases teóricas para a educação brasileira.
- Identificação, coleta, compilação de informações sobre a população negra, com vistas à formulação de políticas públicas de Estado, comunitárias e institucionais.
- Edição de livros e de materiais didáticos, para diferentes níveis e modalidades de ensino, que atendam ao disposto neste parecer, em cumprimento ao disposto no Art. 26A da LDB, e para tanto abordem a pluralidade cultural e a diversidade étnico-racial da nação brasileira, corrijam distorções e equívocos em obras já publicadas sobre a história, a cultura, a identidade dos afrodescendentes, sob o incentivo e supervisão dos programas de difusão de livros educacionais do MEC - Programa Nacional do Livro Didático e Programa Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE).
- Divulgação, pelos sistemas de ensino e mantenedoras, com o apoio dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, de uma bibliografia afro-brasileira e de outros materiais como mapas da diáspora, da África, de quilombos brasileiros, fotografias de territórios negros urbanos e rurais, reprodução de obras de arte afro-brasileira e africana a serem distribuídos nas escolas da rede, com vistas à formação de professores e alunos para o combate à discriminação e ao racismo.
- Oferta de Educação Fundamental em áreas de remanescentes de quilombos, contando as escolas com professores e pessoal administrativo que se disponham a conhecer física e culturalmente a comunidade e a formar-se para trabalhar com suas especificidades.
- Garantia, pelos sistemas de ensino e entidades mantenedoras, de condições humanas, materiais e financeiras para execução de projetos com o objetivo de Educação das Relações Étnico-raciais e estudo de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, assim como organização de serviços e atividades que controlem, avaliem e redimensionem sua consecução, que exerçam fiscalização das políticas adotadas e providenciem correção de distorções.
- Realização, pelos sistemas de ensino federal, estadual e municipal, de atividades periódicas, com a participação das redes das escolas públicas e privadas, de exposição, avaliação e divulgação dos êxitos e dificuldades do ensino e aprendizagem de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e da Educação das Relações Étnico-Raciais; assim como comunicação detalhada dos resultados obtidos ao Ministério da Educação, à Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, ao Conselho Nacional de Educação, e aos respectivos conselhos Estaduais e Municipais de Educação, para que encaminhem providências, quando for o caso.
- Inclusão, nos instrumentos de avaliação das condições de funcionamento de estabelecimentos de ensino de todos os níveis, nos aspectos relativos ao currículo, atendimento aos alunos, de quesitos que avaliem a implantação e execução do estabelecido neste parecer.
- Disponibilização deste parecer, na sua íntegra, para os professores de todos os níveis de ensino, responsáveis pelo ensino de diferentes disciplinas e atividades educacionais, assim como para outros profissionais interessados a fim de que possam estudar, interpretar as orientações, enriquecer, executar as determinações aqui feitas e avaliar seu próprio trabalho e resultados obtidos por seus alunos, considerando princípios e critérios apontados.

Obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras, Educação das
Relações Étnico-Raciais e os Conselhos de Educação

Diretrizes são dimensões normativas, reguladoras de caminhos, embora não fechadas a que historicamente possam, a partir das determinações iniciais, tomar novos rumos. Diretrizes não visam a desencadear ações uniformes, todavia, objetivam oferecer referências e critérios para que se implantem ações, as avaliem e reformulem no que e quando necessário.
Estas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, na medida em que procedem de ditames constitucionais e de marcos legais nacionais, na medida em que se referem ao resgate de uma comunidade que povoou e construiu a nação brasileira, atingem o âmago do pacto federativo. Nessa medida, cabe aos conselhos de Educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios aclimatar tais diretrizes, dentro do regime de colaboração e da autonomia de entes federativos, a seus respectivos sistemas, dando ênfase à importância de os planejamentos valorizarem, sem omitir outras regiões, a participação dos afrodescendentes, do período escravista aos nossos dias, na sociedade, economia, política, cultura da região e da localidade; definindo medidas urgentes para formação de professores; incentivando o desenvolvimento de pesquisas bem como envolvimento comunitário.
A esses órgãos normativos cabe, pois, a tarefa de adequar o proposto neste parecer à realidade de cada sistema de ensino. E, a partir daí, deverá ser competência dos órgãos executores - administrações de cada sistema de ensino, das escolas - definir estratégias que, quando postas em ação, viabilizarão o cumprimento efetivo da Lei de Diretrizes e Bases que estabelece a formação básica comum, o respeito aos valores culturais, como princípios constitucionais da educação tanto quanto da dignidade da pessoa humana (inciso III do art. 1), garantindo-se a promoção do bem de todos, sem preconceitos (inciso IV do Art. 3) a prevalência dos direitos humanos (inciso II do art. 4) e repúdio ao racismo (inciso VIII do art.4).
Cumprir a Lei é, pois, responsabilidade de todos e não apenas do professor em sala de aula. Exige-se, assim, um comprometimento solidário dos vários elos do sistema de ensino brasileiro, tendo-se como ponto de partida o presente parecer, que junto com outras diretrizes e pareceres e resoluções, têm o papel articulador e coordenador da organização da educação nacional.

II – VOTO DA RELATORA

Face ao exposto e diante de direitos desrespeitados, tais como:
· o de não sofrer discriminações por ser descendente de africanos;
· o de ter reconhecida a decisiva participação de seus antepassados e da sua própria na construção da nação brasileira;
· o de ter reconhecida sua cultura nas diferentes matrizes de raiz africana;
- diante da exclusão secular da população negra dos bancos escolares, notadamente em nossos dias, no ensino superior;
- diante da necessidade de crianças, jovens e adultos estudantes sentirem-se contemplados e respeitados, em suas peculiaridades, inclusive as étnico-raciais, nos programas e projetos educacionais;
- diante da importância de reeducação das relações étnico/raciais no Brasil;
- diante da ignorância que diferentes grupos étnico-raciais têm uns dos outros, bem como da necessidade de superar esta ignorância para que se construa uma sociedade democrática;
- diante, também, da violência explícita ou simbólica, gerada por toda sorte de racismos e discriminações, que sofrem os negros descendentes de africanos;
- diante de humilhações e ultrajes sofridos por estudantes negros, em todos os níveis de ensino, em conseqüência de posturas, atitudes, textos e materiais de ensino com conteúdos racistas;
- diante de compromissos internacionais assumidos pelo Brasil em convenções, entre outro os da Convenção da UNESCO, de 1960, relativo ao combate ao racismo em todas as formas de ensino, bem como os da Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Discriminações Correlatas, 2001;
- diante da Constituição Federal de 1988, em seu Art. 3º, inciso IV, que garante a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; do inciso 42 do Artigo 5º que trata da prática do racismo como crime inafiançável e imprescritível; do § 1º do Art. 215 que trata da proteção das manifestações culturais;
- diante do Decreto 1.904/1996, relativo ao Programa Nacional de Direitos Humanas que assegura a presença histórica das lutas dos negros na constituição do país;
- diante do Decreto 4.228, de 13 de maio de 2002, que institui, no âmbito da Administração Pública Federal, o Programa Nacional de Ações Afirmativas; - diante das Leis 7.716/1999, 8.081/1990 e 9.459/1997 que regulam os crimes resultantes de preconceito de raça e de cor e estabelecem as penas aplicáveis aos atos discriminatórios e preconceituosos, entre outros, de raça, cor, religião, etnia ou procedência nacional;
- diante do inciso I da Lei 9.394/1996, relativo ao respeito à igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; diante dos Arts 26, 26 A e 79 B da Lei 9.394/1996, estes últimos introduzidos por força da Lei 10.639/2003, proponho ao Conselho Pleno:
(a) instituir as Diretrizes explicitadas neste parecer e no projeto de Resolução em anexo, para serem executadas pelos estabelecimentos de ensino de diferentes níveis e modalidades, cabendo aos sistemas de ensino, no âmbito de sua jurisdição, orientá-los, promover a formação dos professores para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e para Educação das Relações Étnico-Raciais, assim como supervisionar o cumprimento das diretrizes;
(b) recomendar que este Parecer seja amplamente divulgado, ficando disponível no site do Conselho Nacional de Educação, para consulta dos professores e de outros interessados.



Brasília - DF, 10 de março de 2004.
Conselheira Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva – Relatora



III – DECISÃO DO CONSELHO PLENO

O Conselho Pleno aprova por unanimidade o voto da Relatora.
Sala das Sessões, 10 em março de 2004.
Conselheiro José Carlos Almeida da Silva – Presidente


CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

PROJETO DE RESOLUÇÃO

Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana

O Presidente do Conselho Nacional de Educação, tendo em vista o disposto no Art. 9º, do § 2º, alínea “C”, da Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com fundamento no Parecer CNE/CP 003/2004, de 10 de março de 2004, peça indispensável do conjunto das presentes Diretrizes Curriculares Nacionais, homologado pelo Ministro da Educação em de 2004,

RESOLVE

Art. 1° - A presente Resolução institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a serem observadas pelas instituições de ensino de Educação Básica, nos níveis de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Educação Média, Educação de Jovens e Adultos, bem como na
Educação Superior, em especial no que se refere à formação inicial e continuada de professores, necessariamente quanto à Educação das Relações Étnico-Raciais; e por aquelas de Educação Básica, nos termos da Lei 9394/96, reformulada por forma da Lei 10639/2003, no que diz respeito ao ensino sistemático de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, em especial em conteúdos de Educação Artística, Literatura e História do Brasil.

Art. 2° - As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africanas se constituem de orientações, princípios e fundamentos para o planejamento, execução e avaliação da Educação das Relações Étnico-Raciais e do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

Art. 3° As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana têm por meta a educação de cidadãos atuantes no seio da sociedade brasileira que é multicultural e pluriétnica, capazes de, por meio de relações étnico-sociais positivas, construírem uma nação democrática.
§1° A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por objetivo a divulgação e produção de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto ao seu pertencimento étnico-racial - descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, ter igualmente respeitados seus direitos, valorizada sua identidade e assim participem da consolidação da democracia brasileira.

§2º O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, meio privilegiado para a educação das relações étnico-raciais, tem por objetivo o reconhecimento e valorização da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, garantia de seus direitos de cidadãos, reconhecimento e igual valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, européias, asiáticas.

Art. 4° Os conteúdos, competências, atitudes e valores a serem aprendidos com a Educação das Relações Étnico-Raciais e o estudo de História e Cultura Afro-Brasileira, bem como de História e Cultura Africana, serão estabelecidos pelos estabelecimentos de ensino e seus professores, com o apoio e supervisão dos sistemas de ensino, entidades mantenedoras e coordenações pedagógicas, atendidas as indicações, recomendações, diretrizes explicitadas no Parecer CNE/CP 003/2004.

Art. 5° Os sistemas e os estabelecimentos de ensino poderão estabelecer canais de comunicação com grupos do Movimento Negro, grupos culturais negros, instituições formadoras de professores, núcleos de estudos e pesquisas, como os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, com a finalidade de buscar subsídios e trocar experiências para planos institucionais, planos pedagógicos, planos e projetos de ensino.

Art. 6º Os sistemas de ensino e as entidades mantenedoras incentivarão e criarão condições materiais e financeiras, assim como proverão as escolas, seus professores e alunos de material bibliográfico e de outros materiais didáticos necessários para a educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana; as coordenações pedagógicas promoverão o aprofundamento de estudos, para que os professores concebam e desenvolvam unidades de estudos, projetos e programas, abrangendo os diferentes componentes curriculares.

Art. 7º As instituições de ensino superior, respeitada a autonomia que lhe é devida, incluirão nos conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos diferentes cursos que ministram, a Educação das Relações Étnico-Raciais, bem como o tratamento de questões e temáticas que dizem respeito aos afrodescendentes, nos termos explicitados no Parecer CNE/CP 003/2004.Art. 8° Os sistemas de ensino tomarão providências para que seja respeitado o direito de alunos afrodescendentes também freqüentarem estabelecimentos de ensino que contem com instalações e equipamentos sólidos, atualizados, com professores competentes no domínio dos conteúdos de ensino, comprometidos com a educação de negros e não negros, no sentido de que venham a relacionar-se com respeito, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes, palavras que impliquem desrespeito e discriminação.

Art. 9° Nos fins, responsabilidades e tarefas dos órgãos colegiados dos estabelecimentos de ensino, será previsto o exame e encaminhamento de solução para situações de discriminação, buscando-se criar situações educativas para o reconhecimento, valorização e respeito da diversidade.


§ Único: As situações de racismo serão tratadas como crimes imprescritíveis e inafiançáveis, conforme prevê o Art. 5º, XLII da Constituição Federal de 1988.

Art. 10 Os estabelecimentos de ensino de diferentes níveis, com o apoio e supervisão dos sistemas de ensino desenvolverão a Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, obedecendo as diretrizes do Parecer CNE/CP 003/2004, o que será considerado na avaliação de suas condições de funcionamento.

Art. 11 Os sistemas de ensino incentivarão pesquisas sobre processos educativos orientados por valores, visões de mundo, conhecimentos afro-brasileiros, ao lado de pesquisas de mesma natureza junto aos povos indígenas, com o objetivo de ampliação e fortalecimento de bases teóricas para a educação brasileira.

Art. 12 Os sistemas de ensino orientarão e supervisionarão para que a edição de livros e de outros materiais didáticos atenda ao disposto no Parecer CNE/CP 003/2004, no comprimento da legislação em vigor.

Art. 13 Aos conselhos de Educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios caberá aclimatar as Diretrizes Curriculares Nacionais instituídas por esta Resolução, dentro do regime de colaboração e da autonomia de entes federativos e seus respectivos sistemas.

Art. 14 Os sistemas de ensino promoverão junto com ampla divulgação do Parecer CNE/CP 003/2004 e dessa Resolução, atividades periódicas, com a participação das redes das escolas públicas e privadas, de exposição, avaliação e divulgação dos êxitos e dificuldades do ensino e aprendizagens de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e da Educação das Relações Étnico-Raciais; assim como comunicarão, de forma detalhada, os resultados obtidos ao Ministério da Educação, à Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, ao Conselho Nacional de Educação e aos respectivos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação, para que encaminhem providências, que forem requeridas.

Art. 15 Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Brasília (DF), 10 de março de 2004.